Há três dias, abro a janela do hotel em Petrolina e namoro o Rio São Francisco, leito da unidade nacional, Velho Chico na síntese dos poetas e no rimar da canção. Do meu lado esquerdo, meus olhos se perdem de vista viajando sobre a famosa ponte Petrolina-Juazeiro ou Juazeiro-Petrolina, como cantou Jorge de Altinho.
Diante do braço do Rio que parece dormir esplêndido, abraço o sol, beijo a lua, conto as estrelas como se ouvisse canções de ninar da minha avó. O rio dá sentido à vida da população. Já foi navegável, hoje irriga as terras banhadas por uvas e mangas e ainda produz energia elétrica.
Leia maisO Rio São Francisco é um dos mais importantes cursos d’água do Brasil, uma lenda viva, simbolizada pelas carrancas assustadoras do imaginário da grande Ana das Carrancas. Com as zonas húmidas, fundamentais para a fauna, o Velho Chico dá água a quem tem sede, comida a quem tem fome, abrigo a quem não tem morada.
Seu percurso de quase três mil km é um caminho revelador de histórias, pelejas, causos, amores e das religiosidades dos povos ribeirinhos. Um rio de vital importância econômica, social e cultural para diversas comunidades, dentre elas indígenas e quilombolas. Se o Rio de Janeiro continua lindo, o do São Francisco continua sagrado e imortalizado em poesia.
Estende-se da Serra da Canastra, onde nasce nas abençoadas montanhas alterosas de Minas, até o Oceano Atlântico, para desaguar na divisa dos estados de Alagoas e de Sergipe. Dói saber que o rio todo dia é assassinado pela mão humana, que desmata, polui e retira do seu leito alto consumo de água.
Terceira maior bacia hidrográfica do Brasil, o São Francisco já tem mais de 500 anos de descobrimento. Os especialistas alertam que, nas últimas três décadas, 50% do seu volume de água foi perdido. Um rio que banha nossa gente, serve ao povo sua água pura, mata a sede e molha a agricultura e ainda faz caminho através da navegação tem que ser namorado todo dia.
Já estou partindo, saudoso e mais tristonho ainda, porque não pude fazer poesia ao rio junto da minha amada Nayla Valença, que preferiu abrir sua janela para contemplar o balanço das ondas do mar pelos arrecifes do Recife.
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