Do Blog do Roberto Almeida
Uma guerra nas ruas, uma festa no estádio. Esse foi o clima que envolveu o jogo Santa Cruz x Sport Recife, disputado ontem à tarde, no Arruda. As torcidas organizadas da capital e das cidades da Região Metropolitana tocaram o terror em diversos bairros. Arrastões, empurrões, bombas, agressões selvagens. Pernambuco viveu uma espécie de 8 de janeiro do futebol, no dia 1º de fevereiro de 2025.
Alguns políticos, como o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Álvaro Porto, pediram que o jogo fosse adiado. Porém o presidente da FPF, Evandro Carvalho, resolveu manter a partida.
Dentro de campo, o clima foi outro e Santa e Sport fizeram um clássico à altura de uma tradição de mais de 100 anos. Foi um jogão de bola, as duas equipes buscando o gol, o goleiro tricolor fazendo grandes defesas, os rubro-negros mandando três bolas na trave, o Santinha perdendo oportunidades, mas sendo premiado, no fim com uma cabeçada certeira de Douglas Skilo.
Leia maisA torcida do Santa Cruz fez uma festa bonita no estádio do Arruda. Não podia ser diferente. Um time com uma folha de R$ 400 mil, contra outro de R$ 2 milhões. Um que está na série D, outro na série A.
Quem viu pela televisão ou no estádio, facilmente percebeu que o Sport tem melhores valores individuais, jogadores experientes, confiantes. Já o Santa jogou na base da vontade, da determinação, de cada um por todos e todos por um. Na luta de Davi contra Golias, o pequeno venceu o gigante, repetindo a história bíblica. Há cinco anos sem vencer um clássico, o tricolor pernambucano levou sua apaixonada torcida à loucura.
Depois da confusão nas ruas, da festa no Arruda, a governadora Raquel Lyra anunciou que os próximos jogos entre os dois times serão sem torcida. O Secretário de Defesa do Estado, Alessandro Carvalho, concedeu entrevista e garantiu que a polícia não falhou, nos episódios de violência no Recife e arredores. A governadora desagradou os dois clubes e alguém cutucou: “lembrem ela que as brigas foram fora do estádio!”. Quanto à declaração do secretário, é no mínimo infeliz. Se a polícia não falhou, imagine, caro leitor, se ela tivesse falhado.
O Santa e o Sport merecem aplausos pelos que fizeram dentro de campo. Os torcedores que vandalizaram nas ruas merecem nosso repúdio e punição das autoridades.
Quanto à governadora e seu secretário, numa gestão que está no terceiro ano, parece que ainda estão aprendendo a trabalhar. Erraram e erraram feio. Aqui no interior já se sabia, pelas redes sociais, antes do jogo, que o clima era de animosidade. Aí o serviço de inteligência das polícias não tinha como imaginar que uma guerra estava para acontecer?
Proibir as torcidas nos próximos jogos é só para passar a impressão que temos um governo forte. Não vai resolver o problema. Se todas as brigas sérias registradas foram nas ruas, tinha de proibir as torcidas organizadas nos locais onde elas provocaram o terror.
Puniram os estádios e os torcedores sem levar em conta que no Arruda não aconteceu nada que justificasse um ato de força, e deixaram margem para novos atos de vandalismo no Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e outras cidades da RMR.
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