Por Renato Riella*
Estou fazendo hoje 75 anos. São 27.375 dias. Fiz xixi mais de cem mil vezes. Respirei 600 milhões de vezes. Li mais de um milhão de textos profissionais. Coordenei mais de dois mil eventos. Tive mais de cem empregos. Tudo meio inacreditável. E estou cheio de projetos novos.
Nunca fiquei doente de verdade. Há mais de 50 anos não tomo antibiótico, por exemplo. Nem me vacino. Tudo graças ao regime macrobiótico, que sigo há quatro décadas. E fui muito feliz ao jogar cerca de seis mil partidas de futebol, dos cinco aos 70 anos.
Leia maisComo ótimo resultado de dois casamentos normais, tenho dois filhos, uma filha, uma enteada, um enteado e duas netas. Todos fantásticos.
A Deus, peço paz para minha família, meus amigos, minha cidade…Para o mundo, não, pois seria megalomania. Quanto a mim mesmo, só agradeço.
Agradeço à Comunhão Espírita por me transformar num ser, ainda humano, que não tem medo de morrer. Zero!
Por exemplo: se tiver alguém sequestrado, podem me chamar. Aceito trocar de lugar. Aliás, fiz isso uma vez, numa rebelião da Papuda (em 1986), mas os presos não me aceitaram. Acabaram levando, como reféns, uns velhinhos famosos de Brasília.
Acho que vou viver muito tempo ainda. Mas, se não der, tudo bem: faz favor! Vou embora leve e solto. Seguirei serelepe, cantando “Aquele Abraço”, de Gil.
Nem sempre foi assim. Me vejo menino, com dez anos, no primeiro dia de aulas após maravilhosas férias.
Uma das coisas que mais detesto é estudar. Sempre fui para a escola amaldiçoando aquele momento. Nas aulas, desenhava, fazia poesias ou cochilava. Zero de concentração. Mas tirava sempre boas notas. Tinha meus métodos! Estudava as lições antes, com minha mãe Cecília.
Naqueles dez anos de idade, década de 50, esperando a hora de ir ao Colégio, sabem qual era o meu pensamento?
– “O fim das férias deve ser tão triste quanto o fim da vida”.
A sala de aula, chata, era o meu jazigo. Imagem horrorosa!
Continuo detestando o estudo tradicional, mas mudo o raciocínio: “O fim da vida é mais animador do que qualquer aula”.
Sou autodidata em tudo. Lembro que, com 19 anos, já era jornalista famoso. Ganhei o principal Concurso de Reportagem da Bahia. Com o dinheiro, comprei um Fusca velho em Salvador. Aprendi a dirigir sozinho. Claro que bati feio, sem carteira, mas meu pai Agenor comprou outro Fusca menos velho para mim.
Não tenho culpa de ser assim. Vivo com forte dislexia, que me transformou num ser diferente. Não uso relógio, nem máquina de calcular – e acordo antes do despertador tocar. Muito doido, mesmo!
Jesus diz que há muitas moradas na Casa do Pai. Vou para uma dessas. Tudo depende do tempo de Deus. Um dia, pego o Trem da Alegria…Tchau!
A gente vai se rever por aí, nas esquinas redondas da eternidade. Não chorem nunca por mim. Estarei, como sempre, muito ocupado.
*Jornalista
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