A letargia de Lula para tratar o tema faz com que ministros tentem o tempo inteiro “ler” os sinais do chefe para saber se seguirão na Esplanada ou não. O fato de ele não ter mencionado troca na pasta durante uma reunião ou ter feito pedidos para ações mais à frente são interpretados como sinalizações de que permanecerão à frente de seus ministérios.
Lula não abre com clareza os planos nos bastidores, fazendo com que até os aliados mais próximos façam “contas” sobre o que deve acontecer e projetem os mais variados cenários. Publicamente, o presidente também tem sido econômico nos sinais, limitando-se a dizer quem não sairá do governo, caso do gesto feito ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, dias atrás.
Um integrante do primeiro escalão diz que o petista está com o “xadrez na cabeça”. O problema é que está “somente na dele”, resume esse auxiliar. Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República não quis comentar.
‘Emissários’ atuavam em governos anteriores
Ainda que Lula sempre tenha gostado de centralizar decisões e seja natural que o presidente decida pessoalmente sobre mexidas em sua equipe, ministros lembram que, em outros tempos, ele usava emissários de confiança para encaminhar assuntos mais delicados e, assim, agilizar as deliberações do governo.
Em seu primeiro mandato, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu encarregava-se da costura com partidos para encorpar a base aliada. Ainda que Lula, por vezes, mudasse de ideia e barrasse deliberações, como no episódio em que Dirceu negociou aproximação com o MDB, mas o presidente não quis fechar a aliança na largada do primeiro mandato. A palavra final sempre era de Lula, mas muitos encaminhamentos eram feitos por pessoas de confiança em diversas áreas.
No caso do Judiciário, o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, liderava as tratativas. Isso facilitava a seleção e negociação de nomeações para os tribunais, diz um auxiliar. Atualmente, para avaliar os candidatos às Cortes, Lula instituiu uma espécie de “junta”, na definição de um integrante do governo. Participam do grupo os ministros Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Ricardo Lewandowski (Justiça), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e o secretário especial para Assuntos Jurídicos, Marcos Rogério de Souza.
O processo torna-se, assim, mais moroso na largada. Soma-se a isso, o fato de que Lula tem adotado postura de maior cautela na escolha para esses cargos, diz um ministro. Segundo ele, o presidente entende que “maturar melhor” o levará a fazer melhores escolhas.
Tudo isso tem resultado em lentidão para a escolha dos novos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Desde outubro do ano passado, as listas tríplices estão na mesa do presidente sem que ele chegue a uma conclusão.
A hesitação também marcou o processo de escolha do novo procurador-geral da República, em 2023. Entre a saída de Augusto Aras e a indicação de Paulo Gonet, foram dois meses com comando interino do órgão — o maior período de vacância desde o governo de Prudente de Morais, em 1898.
Interrupções variadas
O modo centralizador de Lula tem peso importante na velocidade com que temas são digeridos pela máquina estatal. O presidente demanda participação ativa na discussão sobre diversos assuntos. Um auxiliar lembra que, nos quatro dias que antecederam o anúncio do acordo para a reparação dos danos causados pela tragédia de Mariana, anunciado em outubro do ano passado, Lula agendou reuniões para discutir sobre o tema em três deles. Para que o pacote de contenção de gastos saísse, o presidente teve ao menos cinco extensas reuniões com sua equipe para deliberar sobre os caminhos possíveis.
É comum que despachos com ele sejam constantemente interrompidos por demandas de todo tipo, diz um ministro. No ano passado, uma reunião convocada pelo presidente com assessores internacionais e jurídicos para discutir o clima de tensão no Equador foi pausada ao menos três vezes para que Lula pudesse anuir a temas dos mais variados matizes, entre eles o posicionamento do governo sobre o seguro DPVAT.
Ao ritmo decisório mais lento de Lula, juntam-se dificuldades do governo nas negociações. Em dezembro do ano passado, o presidente enviou ao Senado indicações para agências reguladoras, após meses em conflito com a Casa sobre os nomes. Quando enfim enviou a lista, havia 17 vagas em nove agências diferentes a preencher, algumas em vacância há mais de um ano.
Ministros dizem que a forma como o Palácio do Planalto está estruturado hoje também contribui para que haja demora em definições. Empoderado por Lula, Rui Costa já teve embates com colegas de Esplanada. Três ministros dizem sob reserva que, por vezes, preferem esperar até conseguirem uma audiência com o próprio presidente para decidir sobre algum tema do que ter de debater com o chefe da Casa Civil previamente.
O problema é que os auxiliares esbarram em limitações para se comunicar com Lula, outro fator a complicar a agilidade nas decisões do governo. A agenda do presidente está sempre apertada, ele tem barrado ligações e despachos no Palácio da Alvorada tarde da noite e não usa celular e aplicativos de mensagens. Para falar com o petista quando ele não está no Planalto, é preciso telefonar para seu ajudante de ordens, lembra um ministro.
A crise que se abateu recentemente sobre o governo, com pesquisas indicando uma queda acentuada na taxa de aprovação do presidente, fez com que Lula abrisse exceção à regra criada por ele mesmo de preservar os fins de semana para descanso. No último domingo, o presidente reuniu na Granja do Torto alguns ministros de seu núcleo duro para debater o mau momento vivido por sua gestão. A informação foi antecipada pelo portal g1.
Foram convocados Rui Costa, Padilha, Silveira e Sidônio Palmeira (Comunicação Social), além da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que é cotada para assumir um ministério. O encontro serviu para que o grupo pudesse discutir o motivo de Lula ter alcançado o patamar mais baixo de aprovação em seus três mandatos, de acordo duas fontes a par do encontro.
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