Por Antônio Campos*
O que vemos na internet, nas redes sociais e nas mídias refletem os conflitos culturais, sendo a religião um dos pilares principais, numa guerra de narrativas que transcendem os próprios territórios físicos dos países. O seu livro ‘Insurgências e Ressurgências Atuais’, num mundo em transição, escrito em 1983, é um clássico livro de futurologia aplicado no tempo e no espaço. E como acertou, nuclearmente.
Usando o tempo tribio, conceito já criado em ‘Além do Apenas Moderno’, fala das idas e vindas dos ciclos culturais a depender das energias das civilizações ou culturas em se afirmarem. Em Insurgências e Ressurgências fala da ressurgência de velhas culturas, desafiar a hegemonia americana e europeia como o islamismo, a ascensão mundial do poder da China, a antevisão do Brasil como uma espécie de prefiguração da humanidade do futuro, ante a miscigenação e outros aspectos.
Leia maisConversei, hoje, com Gilberto Neto por telefone, que está na China fazendo um curso de Desenvolvimento Sustentável e ele falava da Nova Rota da Seda da China, gigante e estratégica. Fui levado ainda adolescente para conversar com Gilberto Freyre por meu pai, escritor Maximiano Campos. Na ocasião, Gilberto me presenteou com o livro Insurgências, tendo eu feito um livro sobre uma releitura desse livro, que cheguei a lançar na ONU Diálogos no Mundo Contemporâneo. Também perguntei a Gilberto Freyre o que ele achava mais inteligente no mundo, disse o paradoxo, uma espécie de antítese que pode virar síntese.
Um dos mais importantes centros de estudos do Brasil fica na Universidade de Salamanca, Espanha, onde esse livro é muito estudado. Em 2022, na nossa gestão na Fundaj, fizemos um seminário e um livro sobre estudos do iberotropicalismo.
O mundo carece de líderes que façam uma mediação dos conflitos, mas precisam reler homens como Gilberto Freyre e Habermas, na Alemanha, que está vivo, com 92 anos.
O terrorismo é uma ideia enlouquecida e não se vence só com armas, mas com ideias e esperança. Não podemos dinamitar todas as pontes, precisamos crer no diálogo e também em saídas negociadas num mundo que caminha fortemente para o conflito, gerando muitos riscos e prejuízos para milhares e lucros para poucos. Nessa era de incertezas, vamos resistir com o diálogo e tolerância, para garantir um futuro viável.
*Advogado e escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras e ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco.
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