O fantasma Zé Dirceu de volta

Por Magno Martins – exclusivo para a Folha de Pernambuco

Existem fantasmas na política que de vez em quando surpreendem e voltam a assombrar. Fernando Collor lidera a lista. Depois de cassado, voltou ao Congresso como senador. Renan Calheiros foi condenado à perda do mandato e dos seus direitos políticos, voltou e se elegeu presidente do Senado. A lista é extensa.

O próximo fantasma deve se traduzir numa realidade nas eleições de 2026 e atende pelo nome de Zé Dirceu, já em articulação para voltar ao Congresso como deputado federal por São Paulo. O maior entusiasta da sua pré-candidatura é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas o capitão da primeira equipe de Lula tem etapas judiciais pela frente.

Sua defesa de Dirceu, liderada pelo advogado criminalista Roberto Podval, apresentou uma petição ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes para reverter duas condenações no âmbito da Lava Jato. A alegação é parecida com a utilizada pelos defensores de Lula para anular os processos do presidente.

Dizem que há provas suficientes que demonstram que Sergio Moro e Deltan Dallagnol não tinham isenção para investigar e julgar Dirceu e que agiram politicamente para perseguir o ex-ministro. A defesa de Dirceu tem grande expectativa na anulação dos processos. Caso isso se confirme, ele recupera os direitos políticos e pode se candidatar em 2026.

Em entrevista ao programa “Diálogos com Mario Sergio Conti”, na Globonews, o petista não descartou uma candidatura, mas afirmou que essa decisão caberá ao PT e a Lula. Numa situação como a de hoje, ele teria muito a acrescentar. Ele seria um líder natural na Câmara”, afirma o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), quadro influente no partido e um dos melhores amigos de Lula.

Entre as lideranças do PT, é praticamente unânime a opinião de que Dirceu tem muito a contribuir com os rumos do governo e do partido em função de sua trajetória e sua capacidade de análise da conjuntura. Um deputado, de forma reservada, afirma que a volta do ex-ministro traz alguns “fantasmas do passado”. “Ele errou muito. Para os bolsonaristas, [a volta dele] será um prato cheio”.

O intuito foi açoitar o Legislativo

A ida de Raquel Lyra (PSDB) ao plenário da Assembleia Legislativa, ontem, para prestigiar a sessão de reabertura dos trabalhos da Casa, teve apenas uma intenção: provocar o presidente Álvaro Porto, do seu partido, e gerar um mal-estar no ambiente solene entre os parlamentares insatisfeitos com a decisão dela de entrar com uma ação no STF contra a Alepe.

Nada mais além disso. Por falta de sorte de Porto, com quem a governadora anda às turras, vazou um áudio de uma fala sua ao lado de deputados ao final da solenidade ridicularizando a fala Raquel. E que deu o que falar, provocando até nota de solidariedade do PSDB nacional. A governadora tem todo direito de participar de qualquer evento na Alepe, principalmente um tão revestido da importância como o de ontem, alusivo à abertura do ano legislativo.

Mas diante da decisão que tomou, de brigar com Porto, recorrendo ao STF para reverter as mudanças que o Legislativo fez na proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias, seria mais prudente a governadora ter enviado um representante, ficando longe do burburinho hostil a ela. Pelas redes sociais, a presença dela na Alepe foi bombardeada por todos os tipos de adjetivos, inclusive de cara-de-pau.

Mas, volto a insistir: Raquel foi para provocar Porto e irritar os deputados, quando recorreu a um discurso pautado pela sustentação oral de que preza suas ações e a do seu Governo pelo diálogo. Mentira! Mais do que isso, cretinice! Se há algo que a governadora nunca preservou foi o diálogo, a busca de entendimentos, ao longo do seu primeiro ano de gestão.

Tanto que ganhou a antipatia de vários segmentos da sociedade e não apenas do Legislativo. Ao entrar com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF, para subtrair o orçamento dos dois poderes constituídos – Legislativo e Judiciário, além do Tribunal de Contas e o Ministério Público – Raquel atraiu a ira de desembargadores e demais autoridades espalhadas em todas essas instituições.

Arrogante e prepotente, Raquel não faz a política da negociação pela arma do bom entendimento com ninguém. Que digam os professores, que ficaram sem aumento em sua grande maioria. Que digam os policiais, que estão ameaçando parar no Carnaval porque não existe nenhum canal para uma boa e saudável conversa. Isso sem falar com os prefeitos, que foram surpreendidos com o decreto exigindo de volta todos os servidores estaduais à disposição dos municípios.

Raquel seria bem acolhida na Assembleia se tivesse feito antes, ou na véspera da sua ida, um gesto bem simples: suspender no Supremo Tribunal Federal a ação contra o Legislativo e, por tabela, os demais poderes constituídos do Estado.

A pior do País – Além de pregar uma mentira, que zela pelo instrumento sagrado do diálogo para a solução dos impasses no Estado, a governadora fez um discurso mostrando um leque de ações do seu primeiro ano de gestão que não bate com a realidade que os pernambucanos enfrentam. Tanto a população em geral não assimila que no ranking de avaliação dos governadores, através do Atlas Intel, a tucana saiu no rabo da gata, ou seja, a pior gestora do País.

Firme no propósito – Mesmo tendo cometido uma gafe – as palavras de baixo calão contra a governadora em áudio vazado – o presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB), deu o tom da sua fala pela independência do poder que representa. “Essa Casa é território do diálogo e do entendimento. E segue mobilizada em favor de uma sociedade justa, igualitária e solidária. Além de legislar e fiscalizar, a Alepe continuará trabalhando para assegurar direitos para a população pernambucana”, afirmou.

Mancada foi de Porto – Não há um culpado pelo vazamento do áudio de Álvaro Porto ontem, no final da sessão de instalação do ano legislativo. A sessão estava sendo transmitida ao vivo pelo Youtube e ele simplesmente, quando encerrou os trabalhos, esqueceu de desligar o seu microfone, o que, segundo um parlamentar da Mesa, ele costuma fazer habitualmente nas sessões. Desta feita, levou a pior.

A volta de Zé Dirceu – Não existe político morto na vida pública! Depois de tantos fantasmas voltarem ao poder, como Collor, cassado presidente e depois eleito senador, quem está planejando sua volta ao Congresso é o ex-ministro da Casa Civil do primeiro Governo Lula, Zé Dirceu. Se escapar dos últimos processos, o capitão de Lula será candidato a deputado federal em 2026. O principal entusiasta da candidatura dele é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Reação lenta e tardia – O áudio agressivo de Porto vazou logo após o fim da sessão, mas a governadora só se pronunciou, via nota oficial, já no final da tarde. “Um ato lamentável de violência política o que se passou. Muitas vezes é em gestos, em atitudes, em ações e hoje foi em voz. Lamento porque isso não está à altura do que Pernambuco representa. Tudo que eu gostaria é que possamos ser respeitados pelos cargos que ocupamos e que a população possa nos julgar pelas ações do nosso governo”, diz a nota.

CURTAS

EM JABOATÃO – O presidente do PP, Dudu da Fonte, anda animado com a pré-candidatura da deputada Clarissa Tércio à Prefeitura de Jaboatão. “Ela já está na boca do povo de Jaboatão e, portanto, daqui para frente, uniremos forças, intensificaremos as agendas e o trabalho, no sentido de ampliar e fortalecer o PP de Jaboatão dos Guararapes”, disse.

MAIS UM – Entre as centenas de alvos monitorados pela Abin no período em que a agência xeretou adversários do governo há um dirigente do PDT em São Paulo que ajudou a organizar em 2021 manifestações que pediam o impeachment de Jair Bolsonaro e, no ano seguinte, trabalhou na campanha presidencial de Ciro Gomes: José Vitor de Castro Imafuku.

ELOGIO – A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy elogiou a resposta da pré-candidata a prefeita e deputada federal, Tabata Amaral (PSB-SP), à crítica do presidente do PL (Partido Liberal), Valdemar Costa Neto. Ele perguntou como a congressista vai comandar a capital paulista se nunca participou de um governo. “Quem definitivamente não tem experiência de boa gestão, quem não sabe nem o que é isso, é o candidato de Valdemar Costa Neto, o Ricardo Nunes”, disse Tabata.

Perguntar não ofende: A derrapada de Porto pode apressar sua debandada do PSDB?