Ao chegar em Afogados da Ingazeira, hoje pela manhã, depois de quase um ano sem por aqui botar os pés, como fazia com muita frequência, em razão do meu pai Gastão Cerquinha, senti uma fisgada no coração ao passar em frente ao casarão da família e vê-lo fechado, posto à venda.
Papai morreu em 15 de novembro do ano passado, aos 100 anos. Mamãe Margarida foi chamada ao reino eterno bem antes, aos 86 anos. Numa união que durou mais de 60 anos, abriram as janelas do mundo terrestre para nove filhos – cinco homens e quatro mulheres.
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Na partilha dos bens, a casa dos meus pais ficou para as filhas, que resolveram vendê-la. A placa, em vermelho, está lá: Vende-se. É um casarão, na Avenida Arthur Padilha, com seis quartos, ampla sala, cozinha de azulejos. Tem um quintal, onde papai criava galinhas de capoeira e, num passado distante, criou até duas vacas de leite.
O ‘Estilo Marco Maciel’, que autografo a partir das 19 horas, na Câmara de Vereadores, é o meu nono livro. Em todos os lançamentos anteriores, meu pai era o primeiro a chegar. Orgulhoso, se postava ao meu lado, como João Pedro e Maria Heloísa fizeram no evento da Assembleia, dia 9 passado, e não me largava.
Franqueada a palavra, fazia lindos e emocionantes discursos. Meu pai era político e escritor. Escreveu três livros sobre Afogados da Ingazeira e seus grandes personagens. Na política, seu legado está sendo prolongado pelo meu irmão Augusto Martins, vice-prefeito por dois mandatos, cinco mandatos de vereador, atual secretário de Cultura e Esportes do prefeito Sandro Palmeira.
Com muita honra, sou a extensão da veia literária do meu pai, que escrevia de forma maestral, um arquiteto das letras. Sua pena fluía suave, penetrava no âmago dos nossos corações. Era um poeta, amante da sua terra, da sua gente. Nosso torrão natal, banhado pelo Rio Pajeú, era sua grande inspiração.
Papai era uma Cora Coralina de calça, que dizia que poeta não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso.
Não vai ser fácil a noite de autógrafos hoje em Afogados da Ingazeira sem enxergar meu pai na plateia.
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