Obtendo 69,34% de votos no Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu, claramente, privilegiar a Região na composição de seu novo ministério, chamando para as pastas mais importantes praticamente todos os ex-governadores eleitos para o Senado.
Ele também convidou nomes como o pernambucano e ex-presidente do TCU José Mucio Monteiro para o ministério da Defesa, além da pernambucana e presidente do PCdoB, Luciana Santos, para o de Ciência e Tecnologia, e da cantora e ativista social Margareth Menezes, para o da Cultura.
Isso não quer dizer que São Paulo não tenha sido contemplado. Afinal, no ministério da Fazenda ficou o paulista Fernando Haddad, assim como são paulistas o presidente do BNDES, Aloisio Mercadante, e o vice-presidente e novo ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin – que, efetivamente, tem o poder de mando no caixa. As informações são do colunista Fernando Castilho, do JC.
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Mas, pela primeira vez em muito tempo, a Região Nordeste não terá tantos “paraíbas” em Brasília, como o próprio Lula costuma se referir a quem é nordestino, aliás, como ele.
Como identifica o colunista Igor Maciel, parece claro que o presidente definiu como critério “quem é bom de voto”, fez o sucessor e se elegeu para o Senado.
Como venceu em todos os estados junto com a maioria dos governadores (além dos senadores) já no primeiro turno, faz todo sentido que o presidente privilegie quem provou que, de fato, tem votos e, portanto, capacidade de influir numa possível estratégia de ampliação dos números das prefeituras em 2024.
O que pode explicar Camilo Santana, da Educação que, aliás, pôde escolher a sua vice-governadora Izolda Bastos para uma das mais estratégicas secretarias da pasta, a de Educação Básica.
Outro senador e ex-governador bom de voto, Wellington Dias, foi para a pasta do Desenvolvimento Regional, certamente uma das mais importantes do governo, já que atua essencialmente com municípios nordestinos.
Dias, é importante lembrar, é certamente o petista com maior força política no seu estado, já que conseguiu eleger governador o seu secretário da Fazenda, Raphael Fontelles, um dos maiores articuladores e defensores da Reforma Tributária, junto ao secretário especial Bernard Apy, quando dirigia o Comsefaz (que reúne os secretários de fazenda dos estados).
Outro bom de voto, e que fez o sucessor, é Rui Costa, que foi para a Casa Civil. Costa conseguiu, com sua força política no Estado, não apenas eleger o novo governador, mas derrotar ninguém menos que o ex-prefeito ACM Neto, que partiu na disputa para o Governo com mais de 80% dos votos.
No Maranhão, Lula escolheu antes mesmo da Fazenda e Defesa, o ex-governador Flávio Dino, que certamente foi o primeiro nome definido na nova equipe. Dino se elegeu e elegeu o novo governador.
Em Alagoas, Lula também deve prestigiar Renan Filho com algum ministério, que deve ser o dos Transportes, até mesmo para contrapor o seu grupo político com o de Arthur Lira, com quem Renan Calheiros disputa há várias décadas.
Finalmente, outra que deve ser agraciada com nada menos que a presidência da Petrobras é a governadora do Rio Grande do Norte, que parece estar encaminhando a escolha do senador Jean Paul Prates (seu suplente e que assumiu por quatro anos) quando ela se elegeu em 2018.
Prates não é do setor elétrico como funcionário de uma estatal. Sua careira começou no RN e no Rio de Janeiro como consultor de projetos de energia eólica e, a seguir, de energia solar.
Prates não pode ser classificado como “barrageiro”, como se denominam os engenheiros que dominam a pasta, por terem participado da construção de usinas hidrelétrica e de onde saíram quase 80% de todos os dirigentes das empresas do setor.
Assim como não é da Petrobras na área de petróleo. Mas está surfando na onda das energias limpas há pelo menos uma década.
Todos esse senadores, os novos governadores e os diversos técnicos do segundo e terceiro escalão serão fundamentais para, em 2024, revigorar os candidatos do PT às prefeituras.
Mas a pergunta é: como é que vão reagir as lideranças e entidades das demais regiões, especialmente do Sul e do Centro Oeste?
O ministério de Lula em nada se apresenta como paulista/mineiro/carioca, embora ele tenha sido votado lá. Mas nessas regiões, ele não teve o domínio dos governadores como no Nordeste. E isso com força do PT, com lideranças que deram uma nova cara ao partido, especialmente no Ceará, com Camilo Santana, e Rui Costa, na Bahia.
Isso não quer dizer que as outras Regiões não possam estar representadas. Simone Tebet, pelo Centro-Oeste, e Marina Silva, pelo Norte, são duas expressões que têm brilho próprio, aliás, muito acima da maioria das lideranças do PT nos demais estados.
Mas além de José Mucio, que foi escolhido a dedo para a Defesa e não disputou eleição, ninguém pode negar que o Nordeste não estará representado no futuro governo. E com Lula e o PT mirando 2024.
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