O levantamento feito pelo GLOBO, que compilou todas as pesquisas disponíveis — a sondagem sobre a disputa no Pará só será divulgado hoje pelo Ipec —, aponta que Lula, à frente na corrida a nível nacional com 12 pontos de vantagem, lidera até o momento em 14 estados. São eles todos os do Nordeste, tradicional reduto de seu partido nas últimas eleições, mas também São Paulo e Minas Gerais —maiores colégios eleitorais do país—, Amazonas, Rio Grande do Sul e Tocantins. Nas quatro primeiras unidades da federação, Bolsonaro conquistou maioria há quatro anos.
Ranking
Bolsonaro, por outro lado, está à frente na corrida presidencial em cinco estados e no Distrito Federal, locais onde também venceu no pleito passado. O grupo inclui Santa Catarina, onde marca 50% das intenções de voto. No Distrito Federal, o presidente está sete pontos à frente de Lula, com 38%. Em Roraima e Rondônia, chega a marcar, respectivamente, 66% e 54%, seus melhores desempenhos. Bolsonaro também tem vantagem sobre Lula no Acre (23 pontos) e no Mato Grosso (18 pontos).
Lula tem seus melhores resultados no Piauí e no Maranhão, onde chega às marcas de 69% e 66% das intenções de voto, respectivamente. Sua vantagem sobre Bolsonaro é menor no Tocantins (7 pontos), no Rio Grande do Sul (8 pontos) e em São Paulo, em que aparece com 40% dos votos, contra 31% do atual presidente. Nesses estados, a vantagem do petista fica abaixo da média nacional.
Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), por sua vez, se destacam nos seus respectivos estados. Ciro chega a 14% e empata em segundo lugar com Bolsonaro no Ceará, enquanto Tebet marca 8% dos votos no Mato Grosso do Sul, onde fica na terceira posição, à frente do pedetista.
Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGCS), Mayra Goulart destaca que um fator relevante para entender a mudança no desempenho de Bolsonaro em estados em que venceu na eleição de 2018 é sua avaliação de governo, que sofreu desgaste na pandemia e com o desembarque de apoiadores identificados com a bandeira do combate à corrupção. Um exemplo é São Paulo, que tem um histórico de antipetismo, mas no qual Lula aparece neste momento à frente.
— Na eleição presidencial, o PT não fica à frente em São Paulo há muitos anos, porque lá o antipetismo é muito forte. Em estados onde se tem uma concentração relevante de camadas com renda alta e média, o desgaste de Bolsonaro com lideranças da direita acaba fazendo diferença. Há ainda um desembarque do lavajatismo da base de apoio de Bolsonaro após a pandemia.
As pesquisas do Ipec apontam que as intenções de voto em Bolsonaro e Lula costumam acompanhar a avaliação do governo federal. Quanto pior é avaliada a gestão de Bolsonaro, mais votos tende a ter o petista, e vice-versa. Em ao menos 14 estados, o índice dos que consideram o governo ruim ou péssimo supera o daqueles que o avaliam como ótimo ou bom. Em cinco deles, todos na Região Nordeste, a avaliação negativa alcança metade ou mais dos entrevistados. O contrário — o governo é ótimo ou bom para maioria — é observado em Rondônia e Roraima.
Nos estados em que ambos estão tecnicamente empatados, o índice de voto ruim ou péssimo é maior que o ótimo ou bom no Rio. No Paraná, em Goiás e no Mato Grosso do Sul, a avaliação positiva supera a negativa. Em todos esses estados, onde agora empata com Lula, Bolsonaro teve mais de 60% dos votos válidos no segundo turno de 2018.
O Amapá, por sua vez, registra o cenário mais dividido do país. Não apenas Lula e Bolsonaro têm exatamente o mesmo percentual de votos, 39%, como o índice de quem avalia o atual governo como ruim e péssimo é o mesmo de quem o considera ótimo ou bom, 35%. No estado, PT e PL apoiam o mesmo candidato a governador, Clécio Luís (Solidariedade), que lidera a disputa, segundo o Ipec.
Estratégias
No caso de Lula, será justamente o Sudeste o foco das últimas semanas da campanha, com concentração de atos em Minas Gerais. No Rio, onde a disputa é mais equilibrada com Bolsonaro, o petista fará de forma mais efetiva ações de panfletagem mirando eleitores evangélicos em locais de grande circulação. A ideia é distribuir conteúdos que misturam versículos bíblicos com mensagem político. Outra região que deve receber atenção é o Sul. A campanha também avalia a possibilidade de uma passagem pelo Centro-Oeste. A estratégia é buscar o chamado “voto útil” de eleitores indecisos ou que declaram voto em Ciro e Tebet.
Já a equipe de Bolsonaro vai insistir no discurso sobre corrupção, para aumentar a rejeição ao ex-presidente. A ideia é seguir explorando o tema nas falas do presidente e nas redes sociais, como fez no debate da Band, no domingo passado, quando Bolsonaro abriu sua participação questionando o petista a respeito do assunto. A campanha também vai focar em recentes índices positivos da economia, como o crescimento de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto), acima da expectativa, e o recuo do número de desempregados para 9,1% em julho.
A expectativa dos aliados do presidente era o que o Auxílio Brasil, que aumentou para R$ 600 e começou a ser pago em agosto, já fosse sentido nas pesquisas, mas o resultado ainda não apareceu. A avaliação de alguns integrantes do comitê de campanha de Bolsonaro é que apontar os números favoráveis da economia pode ter um impacto melhor para o eleitorado.
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