Paulo Ziulkoski

O presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, projeta que as prefeituras podem ter um impacto fiscal de R$ 73 bilhões se medidas atualmente em tramitação forem aprovadas pelo Legislativo, pelo Judiciário ou pelo Executivo. Deu como exemplo o projeto que limita a tributação do ICMS e a reforma do Imposto de Renda, que juntos custariam R$ 20,4 bilhões às prefeituras. As informações são do portal Poder360.

Em conversa com jornalistas, hoje, Ziulkoski disse que o número reforça a necessidade de os políticos em Brasília refletirem sobre os efeitos que as decisões deles podem ter sobre a população.

O executivo afirma que as prefeituras são responsáveis pela prestação da maior parte dos serviços aos brasileiros, como educação, saúde e segurança. Ao tomar certas decisões, segundo ele, os municípios perdem a capacidade de cumprir com suas funções mais básicas. “Quando fala que a eleição custa R$ 5 bilhões, quem é que paga?”, questionou.

Somados, os projetos de lei que afetam as cidades, as possíveis decisões do Judiciário em projeções no Supremo Tribunal Federal e decretos do Executivo, representam um risco fiscal de R$ 234,2 bilhões às prefeituras.

MPT faz inspeção na sede da Caixa após denúncias de assédio sexual

Inspeção Caixa Econômica

O procurador Paulo Neto, do Ministério Público do Trabalho, fez, hoje, uma inspeção na sede da Caixa Econômica Federal em Brasília.

A inspeção foi motivada pelas denúncias de assédio sexual e moral feitas por funcionárias da Caixa na semana passada. As denúncias levaram à demissão do presidente do órgão, Pedro Guimarães, que nega as acusações.

Na semana passada, após as denúncias terem sido divulgadas, o Ministério Público do Trabalho abriu uma apuração preliminar e, segundo Paulo Neto, o objetivo da inspeção desta segunda-feira foi conhecer o espaço físico da Caixa, onde teriam ocorrido os episódios de assédio.

“O objetivo da inspeção foi verificar o espaço físico, onde esses supostos assédios estão ocorrendo. Foi construído um quadro fático e durante o depoimento das testemunhas é importante que a gente tenha essa ideia de como é o espaço físico aí dentro, quais setores se relacionam, onde funciona a presidência e a vice-presidência”, afirmou o procurador.

Danilo Cabral

Em entrevista à Rádio Hits FM, hoje, o pré-candidato a governador Danilo Cabral assumiu o compromisso de construir um hospital de trauma na Região Metropolitana para desafogar o Hospital da Restauração. 

“A Restauração recebe muitas vítimas de acidentes, cujo tratamento não é rápido. As pessoas que entram na UTI, vítimas de acidente de moto, por exemplo, precisam passar muitos dias ali dentro antes de ter alta. Então, a gente precisa construir um novo hospital de trauma para tirar as pessoas e desafogar a Restauração. Esse é um ponto”, destacou Danilo.

O pré-candidato também se comprometeu em agilizar a marcação e realização de consultas e exames na rede pública de saúde. Para solucionar o gargalo, Danilo vai investir em telemedicina. “É você descentralizar esse atendimento a partir da utilização da tecnologia. Usando a telemedicina, você consegue acabar com muitos problemas que hoje temos nas filas de exames e consultas”, argumentou Danilo, explicando que a telemedicina será utilizada, sobretudo, em consultas de menor complexidade, fazendo com que as pessoas não tenham que se deslocar até uma unidade de saúde. “É assim que a China, país mais populoso do mundo, atende uma parte da sua população”, comentou.

Enquanto o governo corre para aprovar a PEC das Eleições, deputados querem mudar a proposta aprovada no Senado e incluir motoristas de aplicativo no pagamento de um vale previsto para taxistas.

O deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), que será o relator da PEC na Câmara, disse, ao blog do Valdo Cruz, que seus colegas querem incluir na medida os motoristas de aplicativos. “Os deputados avaliam que não faz sentido dar um vale para os taxistas e não para os motoristas de aplicativos, que estão sofrendo da mesma forma com a gasolina cara”, disse.

Ele também estuda se é possível retirar do texto a decretação do estado de emergência e trocar por um dispositivo previsto na PEC do teto dos gastos públicos. Danilo Forte informou que sua assessoria jurídica está analisando se é possível fazer essa mudança, para dar maior segurança jurídica à Proposta de Emenda Constitucional aprovada no Senado.

Os senadores aprovaram a criação do Estado de Emergência para driblar a Legislação Eleitoral, que proíbe a criação de novos benefícios sociais em ano de eleição. Para estender o vale também para motoristas de aplicativos, os gastos com o pacote de bondades da PEC das Eleições vai crescer. Ele já passou do valor inicial admitido pela equipe econômica, de R$ 29 bilhões, para R$ 42,1 bilhões.

Agora, se os motoristas de aplicativos também forem beneficiados, o valor vai aumentar e pode gerar mais incerteza no mercado. Na semana passada, logo depois de o Senado aprovar a PEC das Eleições, prevendo um gasto de R$ 42,1 bilhões fora do teto dos gastos públicos, o dólar voltou a subir no mercado financeiro. Isso preocupa o Banco Central, porque aumenta a pressão sobre a inflação e dificulta ainda mais o trabalho do Comitê de Política Monetária para reduzi-la.

Hoje, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deve ter uma reunião preliminar com alguns líderes partidários para acertar a estratégia de votação da PEC das Eleições. Lira, alinhado com o Palácio do Planalto, quer votar a proposta ainda nesta semana, mas pode enfrentar a resistência da oposição.

Lula e Alckmin

O ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) conversaram, ontem, com Márcio França para acertar detalhes da saída do candidato do PSB da disputa pelo governo de São Paulo e sua candidatura para o Senado.

O ex-prefeito e candidato do PT ao governo paulista, Fernando Haddad, também participou das tratativas.

No PT, a saída de França da disputa ao Palácio dos Bandeirantes é dada como certa e aguardada para esta semana. Falta apenas combinar a data do anúncio, segundo fontes ouvidas pelo blog da Andréia Sadi. Já França, após o encontro, repete que aguarda uma manifestação de Gilberto Kassab (PSD) antes de anunciar sua desistência.

França e Kassab conversaram nas últimas semanas sobre o eventual apoio do PSD a uma candidatura do peessebista – mas o PSD está em conversas avançadas com Tarcisio de Freitas (Republicanos), candidato de Jair Bolsonaro (PL).

Kassab confirmou que vai conversar com lideranças do PSD nesta semana para definir o apoio na disputa pelo governo de SP – mas admite que a maior parte do partido, hoje, tende a apoiar Freitas.

No plano nacional, Kassab vai apoiar Lula.
Sem apoio do PSD e de nenhum partido grande, França deve anunciar nos próximos dias sua desistência ao Palácio dos Bandeirantes.

Dinheiro Público

Por Maurício Rands*

Tudo é uma batalha pela narrativa. Acaba de sair a pesquisa “A cara da democracia” (UFMG, UnB, Unicamp e Uerj). 20% dos entrevistados creem que a terra é plana; 36%, que há uma conspiração global da esquerda para tomar o poder; 21%, que a cloroquina cura a Covid-19; 49%, que o coronavírus foi criado pelo governo chinês; e 27%, que o homem nunca pisou na lua.

Como leciona o jurista pernambucano João Maurício Adeodato, em sua análise retórica realista, a narrativa dominante acaba virando realidade. Pelo menos para os que nela creem. Como os terraplanistas. Ou como os senadores que aprovaram, no dia 30 de junho p.p., a Proposta de Emenda Constitucional nº 01/2022. A “PEC do Estado de Emergência”. Ou “PEC dos Gastos”. Ou “PEC da Bondade”. Ou “PEC do Vale-tudo-eleitoral”. Ou “PEC Kamikase”. Que sobre ela cada um tem a sua narrativa retórica instrumental.

Os fins sempre justificarão os meios? Correto o apoio aos 33 milhões que passam fome. Mas a mudança da CF seria o único meio para isso? Não seria possível destinar esses 41 bilhões para pobres, idosos, taxistas e caminhoneiros removendo verbas de outras rubricas menos nobres? Por que o Senado e a Câmara não poderiam ter votado um outro texto alternativo à PEC 01/2022 antes desse ano eleitoral? Por que não um projeto que removesse créditos do orçamento secreto (R$ 19 bi), do fundo partidário (R$ 1 bi), do fundo eleitoral (R$ 4,9 bi em 2022), do custeio dos prédios suntuosos dos poderes em Brasília, ou dos muitos subsídios aos andares de cima? Afinal, responsabilidade social não é incompatível com responsabilidade fiscal. Aliás, a segunda é requisito para a sustentabilidade da primeira. Para que as políticas públicas de apoio aos vulneráveis sejam viáveis no médio e longo prazo, impõe-se que elas não eliminem a própria capacidade do estado de financiá-las. Que elas não retroalimentem a inflação que sempre piora a vida dos mais pobres. Os senadores não-bolsonaristas votaram na manobra do governo e do Centrão com receio da narrativa de que, se a rejeitassem, ficariam contra os pobres. Mas se votassem um outro substitutivo que indicasse de onde viriam os recursos não estariam construindo uma outra narrativa? Talvez mais consistente porque os benefícios teriam sustentabilidade e não teriam data certa para terminar.

A guerra da Ucrânia foi o pretexto. Uma emergência artificial, pois a guerra já dura quatro meses, a fome não surgiu hoje e o decreto de calamidade pública já foi suspenso pelo próprio governo. Objetivo eleitoreiro em desvio de finalidade. A emergência elevada ao texto constitucional – ao ADCT –, claro, pode suspender a aplicação da legislação infraconstitucional. Nesse caso, a PEC 01/2022 excepciona a eficácia da Lei das Eleições (9.504/97, art. 73 § 10º), da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2022 (Lei 14.194/2021). E se choca com a EC nº 95/2016 (a do teto de gastos), que acrescentara os arts. 106 a 114 ao ADCT para criar um novo regime fiscal. A última é norma de mesmo ranking. Mas, por ser anterior e mais geral, poderia ter sua eficácia excepcionada por outra norma de igual hierarquia e mais específica. A consequência é que a PEC 01/2022 somente seria inconstitucional se contrariasse as cláusulas pétreas previstas no § 4º do art. 60 da CF/88. Afinal, o poder de emendar a constituição é um poder constituinte derivado. Por isso, não pode reformar as cláusulas pétreas.  

O governo, acusando desespero eleitoral, orientado pelos profissionais do Centrão, imaginou dar um xeque na oposição. Se eles defendem os 33% de pobres que hoje vagam com fome em nossas ruas, não poderiam votar contra o aumento do Auxílio Brasil e do Vale Gás. Se realmente se preocupam com a carestia e a inflação, não poderiam rejeitar a redução do ICMS sobre os combustíveis. Nem o pix caminhoneiro.

O custo do pacote de bondade, de R$ 41 bi, não é problema para um governo que se elegeu com o apoio da Faria Lima mediante a promessa de que o ultraliberal Paulo Guedes não cometeria as pedaladas fiscais que derrubaram Dilma.

Cometem uma pedalada de maiores proporções. O governo que, em tese, tem a responsabilidade de bem administrar o caixa e o equilíbrio fiscal, é quem patrocina mais uma flexibilização do teto de gastos. E sem indicar fontes alternativas de financiamento das novas despesas, como sugeriram, entre outros, José Serra e Cristovam Buarque. A manobra do governo, um paliativo esperto e eleitoreiro, dá um drible nas regras eleitorais que impedem bondades com o dinheiro público às vésperas das eleições. Não encaminha soluções duradouras. E tudo através de uma emenda constitucional de duvidosa constitucionalidade.

*Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Marilia Arraes André de Paula e Sebastiao Oliveira

A pré-candidata ao Governo de Pernambuco, Marília Arraes apresentou, neste fim de semana, sua proposta de combate à miséria: ampliar os recursos do Fundo Estadual de Combate à Miséria para R$ 1 bilhão, dobrando o orçamento para o fundo. Para garantir o reforço de caixa, a pré-candidata pretende destinar o dinheiro arrecadado com multas sobre o pagamento de impostos atrasados, que no ano passado somou R$ 460 milhões, praticamente o mesmo valor da alíquota adicional de ICMS sobre produtos supérfluos (R$ 459 milhões).

“Assim como Lula está fazendo no seu plano de governo, nós estamos incluindo o pobre no orçamento de Pernambuco. Erradicar a miséria em Pernambuco será uma das nossas prioridades a partir de 2023, ao lado da geração de emprego e renda para a população pernambucana”, garantiu Marília.

Na última semana, um estudo da FGV Social apresentou Pernambuco como um dos quatro estados do País onde mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, com menos de R$ 497 por pessoa ao mês. “São 4,8 milhões de pernambucanos nessa situação e o governo do PSB assiste a tudo isso sem fazer nada. De 2019 a 2021, a pobreza cresceu mais de 8% em Pernambuco, quase o dobro da média nacional (4,5%), da taxa na Bahia (4,9%) e duas vezes e meia a taxa do Ceará (3,8%)”, comparou.

A pré-candidata esclarece que esse reforço de caixa para o combate à miséria não significa aumento de impostos para a população. “As multas já são cobradas naturalmente quando as empresas pagam os impostos em atraso. Não teremos nenhum aumento”, explica Marília.

“O presidente Lula já tirou o Brasil do Mapa da Fome e tenho certeza que fará isso novamente. E aqui em Pernambuco, nós vamos fazer a nossa parte para que isso aconteça o mais rápido possível”, concluiu.

Por José Adalbertovsky Ribeiro*

MONTANHAS DA JAQUEIRA – Terra da Vera Cruz, terra das múmias, dos dinossauros e faraós. As múmias andam de moto e fazem motociatas, outras múmias degustam chuchu com mortadela e ameaçam voltar à cena do crime. As múmias circulam solenemente nos palácios, fazem discursos, apresentam projetos, amam e mamam nos orçamentos.  Os zumbis vermelhos e os bovinos adoram as múmias.

Juscelino Kubitscheck, o estadista do século 20 estabeleceu um plano de metas de modernização e industrialização e preconizou 50 anos em 5, no seu governo, de 1955 a 1960. A construção de Brasília foi uma realização histórica para além do tempo. Brasília são pirâmides deste reino de Pindorama. As catedrais, os palácios e palacetes são habitados por múmias e faraós. A seita do bode rouco vermelho e a seita do gado estabeleceram a meta de retrocesso de duas décadas em quatro anos de governo.

Os filhotes dos faraós Ramses e Tutancamon governam os brasileiros em seus sarcófagos nos Palácios do Planalto, da Alvorada, da Justiça e nos tapetes verde e azul do Congresso Nacional. São múmias batizadas, cavalos batizados. As múmias Sapiens governam os vivos. Este ano existem milhares de candidatos a múmias. Múmias de diversos sexos e assexuadas sucedem-se nas tribunas e nos púlpitos nos palácios dos Poderes. Ser múmia é uma glória.

Neste reinado de gênios nas universidades, nas ciências, nas artes e nas mídias, um pai de chiqueiro vermelho, descondenado depois de cometer pecados cabeludas, é ungido como reserva moral para levar 212 milhões de Sapiens aos caminhos da perdição. Incrível! Os doutores, filósofos, sábios e iluminados postam-se de joelhos diante do novo Oráculo da Sabedoria e vão ao delírio quando ele revela “menas verdades”, sabe, com aquela voz de taboca rachada.

Os sociólogos de elite da USP e da Unicamp sentem orgasmos múltiplos quando ouvem o pai de chiqueiro falar, sabe, sobre as teorias revolucionárias de uma América Latina socialista à moda da Venezuela. Ele fala e repete “nesse País”, ou seja, naquele País, não se sabe a qual País se refere.

As faculdades de sociologia de USP e da Unicamp em São Paulo, e também outros cenáculos de humanidades pelo País afora, modéstia à parte, abrigam vastos sarcófagos de intelectuais mumificados com títulos de doutores, PhDs e sábios. Uma senhora de cabelos desgrenhados, guru ideológica de seita vermelha, foi ungido com o título de doutora ao defender a tese intitulada “Eu odeio a classe média”, sendo ela própria integrante da classe média e com salário de marajá. “É próprio do mal odiar a se mesmo”, diz um principio filosóficos. Faltou apenas praticar o ritual de haraquiri e esfolar as tripas, em nome da coerência dialética.

Hasta la vista, leitores Magnaneanos, gregos e troianos!

*Periodista, bicho-grilo e digital influencer

Marco Maciel

Capítulo 20 

Em 2003, na época autor de apenas três livros – Ideias Liberais e realidade brasileira, Educação e liberalismo e Liberalismo e justiça social – Marco Maciel foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. No voto, venceu o escritor Fernando Morais por 28 a 9 votos. A vaga em aberto era a do jornalista Roberto Marinho, o poderoso dono das Organizações Globo. Outros 11 candidatos tentaram entrar na disputa, mas não obtiveram votos.

“Foi muito bom que Marco Maciel buscasse a nossa companhia. Era natural que o escritor, o professor universitário, o conferencista, o pensador, conhecesse a saudação de chegada em mais uma academia, pois já as ouviu ao ser introduzido na Academia Pernambucana de Letras. Naquela ocasião, escutou de um confrade este prognóstico: “Foi natural que integre a Academia, a Pernambucana. Isto, por enquanto.” Pois bem, o “por enquanto” acabou. Marco Maciel chegou à Academia Brasileira”, saudou o acadêmico Marcos Vinicios Vilaça, em seu discurso de recepção ao novo imortal.

Como lembrou Vilaça, ao reproduzir a profecia de um colega de que Maciel seria um dia imortal da ABL, para brigar pela vaga, o ex-senador madrugou para fazer a sua inscrição como candidato, logo no primeiro dia permitido, em 14 de agosto do mesmo ano, por e-mail. Cumpriu à risca a rotina dos postulantes à Casa de Machado de Assis, mantendo contato com os acadêmicos e comparecendo como convidado às ocasiões especiais da ABL.

Foi a posse do jornalista Cícero Sandroni, logo de largada. A eleição, considerada difícil a princípio devido à disputa com Fernando Morais, acabou durando apenas 35 minutos, com vantagem folgada para o político pernambucano. Marco Maciel passou a ser o oitavo ocupante da Cadeira nº 39, na sucessão de Roberto Marinho e recebido em 3 de maio de 2004 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça.

No exercício do mandato acadêmico, Marco Maciel lançou mais três livros – Tempos de Mundialização, Reformas e Governabilidade, Palavras, ações, obras e Política das Ideias. No Senado, produziu uma centena de plaquetes sob os mais variados temas, como Cem anos da República, Nordeste e semiárido, Gilberto Freyre, Luiz Gonzaga e até sobre Ciência e Tecnologia. 

O pensamento acadêmico de Marco Maciel pesou na sua escolha. No livro, Democracia e Brasilidade, destacou: “Não podemos pensar em democracia se não tivermos uma sociedade partícipe. Não podemos ter uma sociedade de excluídos. Dar o voto ao analfabeto é importante, mas não lhe assegura o direito à cidadania”. E também: “Não seremos uma Nação justa, equilibrada e solidária, enquanto o direito à vida, à Educação, à saúde, ao trabalho e à Cultura não forem assegurados a todos os brasileiros”. 

Do seu sentimento do arrocho pernambucano, sem queda da expressão da brasilidade: “O sacrifício supremo de Frei Caneca há de estar sempre presente na consciência nacional, como exemplo da dedicação pernambucana à causa da nacionalidade e das ideias liberais”. 

Nas sentenças no plano geral da Política, ênfase para o liberalismo: “O Liberalismo que defendo é o Liberalismo Social, que nada tem a ver como estilo de vida com o laissez-faire, laissez-passer. “Não prego o Estado mínimo, nem acredito que a “mão invisível do mercado” seja capaz de regular com eficiência os conflitos sociais. Acredito, como Popper, que o importante em Política não é saber quem deve governar, mas sim que parcelas de nossa liberdade devemos ceder no governo. Liberalismo é humanismo, anterior a qualquer ideologia”. 

Das valiosas e numerosas publicações sobre a questão educacional, citava de H.G. Wells: “A civilização é uma corrida entre a Educação e a catástrofe”. Sobre a família: “Repito com Isaías, todo ser humano é como erva, e toda a sua glória como flor do campo. A erva seca, a flor fenece e somente a palavra de Deus permanece”. 

“Estamos muito contentes com a entrada de Maciel na Academia”, disse, na época, o presidente da ABL, Alberto da Costa e Silva, acrescentando: “Ele é uma grande figura pública brasileira e um homem de encanto pessoal inexcedível “.Sou exclusivamente um homem público e pretendo trazer a contribuição da atividade pública para a Academia, principalmente nas questões de Governo e na discussão das reformas políticas. Estou muito feliz, nunca pensei que conseguiria entrar para a ABL”, comemorou Maciel, empolgado, durante a reunião de cumprimentos no Hotel Glória, onde esperou o resultado.

Maciel tomou posse na ABL no dia 3 de maio de 2004. Em seu discurso, contou uma das suas lembranças do presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, a quem sucedeu, falecido em 6 de agosto de 2003, aos 98 anos. “Eu podia contar muitas histórias sobre ele, mas conto apenas uma, quando ele completou 90 anos. No dia seguinte à comemoração do aniversário, depois de ter ficado insone por causa dos festejos, ele me levou à redação do jornal O GLOBO para uma visita, por volta da meia-noite de sábado”, disse.

E completou: “Isso demonstra que era uma pessoa muito ativa, com muita flama, energia o tempo todo. Foi alguém que, aos 61 anos, teve a capacidade de começar o empreendimento na televisão”. Saudado pelo acadêmico Marcos Vilaça, Marco Maciel conheceu Roberto Marinho nos anos 70 e o encontrava com freqüência.

“Nos anos 80, no período da transição e da eleição de Tancredo Neves, a nossa relação se estreitou – contou Maciel, que destacou o perfil de homem público de Roberto Marinho: “Embora não tenha exercido mandatos eletivos ou desempenhado diretamente funções públicas, foi um homem público que viveu o século em parceria com o Brasil. Comportava-se mais como jornalista e um homem público do que como empresário”. 

A posse de Marco Maciel foi prestigiada. Além de uma grande colônia pernambucana, estavam lá o então vice-presidente José Alencar, o prefeito do Rio, César Maia, os senadores José Sarney, também acadêmico, Antônio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen. Vilaça começou seu discurso destacando que ali chegava um político por vocação.

“A Política é a sua vocação. Jorge Semprun conta que na admissão aos horrores de Bunchenwald indagava-se da profissão, mas profissão no sentido burocrático de produzir algo material para o campo de concentração. Quando disse: “Sou filósofo”, a reação foi brava. Isto não é profissão, rebateu a voz de censura. Retrucou Semprun: “Pode não ser profissão, mas é vocação.”

“No caso de Marco Maciel”, acrescentou Vilaça, “poderia proclamar em nosso pórtico compromissos com a vida pública como a sua grande vocação. Seria bem aceito. A Academia não é política, mas não é apolítica, nem politófoba. Esta Instituição estaria desinteressada dela própria se estivesse desinteressada do destino da Pátria. A Academia é um espaço de liberdade e convívio. E de solidariedade. Tanto que, passada a eleição, queimadas as cédulas, todos se proclamam eleitos por unanimidade. É da tradição. Dizemo-lo alto e bom som”.

Vilaça foi mais além: “Marco é como que a versão moderna do Marquês de Olinda, para quem Câmara Cascudo reservava essa observação: “Araújo Lima não acelera, não retrograda, mas também não para.” Por isso, o estilo de Marco Maciel não tem nada de Opus Dei e tudo de “opus by day and by night”. Por outro lado, a tradição pernambucana é a dos intelectuais engajados na Política, de que Nabuco é o exemplo básico. Como Nabuco, Marco Maciel chega à Academia sem trazer da Política nenhuma decepção, nenhum amargor, nenhum ressentimento”. 

Por fim, Vilaça destacou algumas virtudes de Maciel: “É um coerente. É discreto, mas sem o pecado da omissão. E tenham certeza de que continua a espionar o que ainda lhe reserva o tempo, sem pressa e sem descanso. Marco Maciel é teimoso. Não parece, mas é. Só que a sua teimosia é de utilidade pública. Uma das coerências da obra escrita de Marco Maciel é o reconhecimento ao que aprendeu em Gilberto Freyre. É raro um texto seu em que não haja pinçado uma lição gilbertiana”. 

Em seu discurso de posse, Marco Maciel falou da pernambucanidade. “Nosso ufanismo é muito mais antigo, surgido no século XVII com a expulsão dos holandeses, numa guerra planejada e realizada inteiramente à revelia da coroa portuguesa, disposta a negociar o Nordeste brasileiro. Um dos livros básicos sobre o assunto – o do monge beneditino e meu ilustre conterrâneo Domingos do Loreto Couto – intitula-se significativamente Desagravos do Brasil e glórias de Pernambuco. Por isso, ao prefaciar o livro de Gilberto Freyre Região e Tradição, editado na década de quarenta, o saudoso romancista José Lins do Rego escreveu que o povo pernambucano foi “capaz de expulsar os holandeses e fazer o carnaval mais alegre do mundo”.

Ainda sobre Pernambuco: “No século XIX, os pernambucanos voltaram a lutar contra a opressão, dessa vez exercida pela própria metrópole, em duas “revoluções libertárias”, como as chamou o poeta Manuel Bandeira no poema Evocação do Recife. A guerra dos mascates, uma guerra de “afirmação nacionalista”, como observou Mário Melo – e as revoluções de 1817 e 1824 também suscitaram uma obra clássica de nossa historiografia: Os Mártires pernambucanos, do Padre Joaquim Dias Martins, somente publicada em 1854, mas escrita vários anos antes. Saliente-se, por oportuno, a insuspeição do autor, que era português. Temos, portanto, ali e acolá, razões de sobra para nos orgulhar de nossa pernambucanidade, palavra inventada pelo mestre Gilberto Freyre para caracterizar o nativismo de Pernambuco, tão precisamente interpretado por Oliveira Lima”.
 
Sobre sua vocação literária, afirmou: “O ato de escrever, afirmou com propriedade Adonias Filho, é o mais público de todos os atos”. Na semântica dos nossos tempos, esta palavra encontrou atualidade em Rui, ao dizer: “A Pátria não é ninguém, são todos; cada qual tem no seu seio os mesmos direitos à ideia, à palavra, à associação”. República é assim a cidadania, a coisa do povo, o bem comum”. 

Fez ainda uma contextualização sobre a morte: “A morte – sentenciou Rui Barbosa – não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima. O sentimento que se tem, após sua morte, é o de que, quanto mais longe do seu desaparecimento, mais cresce sua figura exuberante, ornada pela sua obra”. 

Por fim, falou da sua emoção de virar imortal: “Aqui estou num dos momentos mais fascinantes da minha vida, envergando o fardão, ostentando o colar e empunhando a espada. Mas não sem saudade, saudades muitas. De minha mãe, Carmen Sylvia, sempre presente na memória e no coração, e de quem recebi total afeto e permanente estímulo. Dos idos no velho casarão do Colégio Nóbrega, onde menino comentava as vitórias do meu Santa Cruz, sob os apartes dos torcedores do Náutico e do Esporte; onde os jesuítas inculcaram, juntamente com meus pais, formação intelectual e sólida fé cristã”. 

Sucessor de Marco Maciel na ABL, o jurista José Paulo Cavalcanti tomou posse destacando: “Eu estou muito honrado de estar em uma cadeira que é a cara de Pernambuco. O primeiro ocupante foi Oliveira Lima, aquele que Gilberto Freyre chamava de Quixote gordo. E o último a ocupar também foi Marco Maciel. A melhor definição de Maciel foi dada pelo ex-governador Gustavo Krause: “É o ser menos imperfeito que conheci em toda a minha vida”. Suceder um pernambucano tão ilustre quanto Marco Maciel é um privilégio para mim”. 

E acrescentou: “Eu acredito, na verdade, que [com minha eleição] a Academia, de alguma forma, prestou uma homenagem a Pernambuco. Não prestou a mim, mas ao Estado, pois esta cadeira tem a cara de Pernambuco”.

Ao final do discurso de Marcos Vilaça a Maciel, o que mais repercutiu foi a seguinte parte: “Desconfio que se houvesse escolhido o sacerdócio, hoje  saudaria Marco Maciel assim: “Dom Marco Antônio, o Cardeal Maciel. Imagino, só por provocação, o brilho nos Concílios, as articulações nos corredores do Vaticano, o contributo espiritual à redação das Encíclicas, a oportunidade do solidéu e a impossibilidade da tonsura, o séquito de mitríferos, baculíferos e turibulários, tudo encimado pelo exemplo das virtudes teologais”. 

“Mas foi bom que Deus o tenha destinado para ser pai de família, grande pai de família. Foi muito bom! E Anna Maria nunca faltou. E o pai, o quase centenário e tão lúcido Dr. Maciel? O filho mesmo pode explicar, como neste texto: “E no seu exemplo (do pai), aprendi a identificá-la (a Política) como uma síntese de desprendimento e coragem, conhecimento e ação, de ousadia e prudência, de inteligência, discernimento e responsabilidade”. 

“Já da Dona Carmen quero contar a cena que mantenho na mente e que faz parte daquela conversa do coração de mãe, a desfibrar fibra por fibra. Era época de vestibular para a Faculdade de Direito. Muita queima de pestana. Madrugadas de olhos abertos. Alegrias adiadas. A casa repleta de colegas para estudos em grupo, desatentos à alimentação e concentrados nos livros. Ele fugindo de D. Carmen. Ela implora, sem sucesso, que tome, pelo menos, um copo de leite. Vencida, desabafa: Quando passar o vestibular, vou tomar conta da alimentação deste menino. Ao que parece, o vestibular continua…”

Veja amanhã:

Marco Maciel não deixou herdeiros na política