Assisti, há pouco, e fiz questão de estar na companhia dos meus filhos – Magno Filho, 16 anos, e João Pedro, 10 anos – ao filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles. O longa brasileiro é baseado na história de Eunice Paiva, contada no livro escrito pelo próprio filho, Marcelo Rubens Paiva.
É um mergulho nos anos sombrios da ditadura militar. Retrata uma das tantas histórias revoltantes que aconteceram nos anos de chumbo. O enredo é sobre o desaparecimento de Rubens Paiva, engenheiro civil e ex-político que foi sequestrado pela polícia durante o período da ditadura militar no Brasil. Sem respostas sobre seu paradeiro, Eunice passou anos de sua vida em busca de, ao menos, ter a oportunidade de enterrar o marido.
Leia maisO filme traz uma história de interesse nacional, afinal todo o Brasil foi vítima da ditadura, e faz isso retratando momentos marcantes da história dessa família. O filme é muito bom e agradou a família de Rubens Paiva. Ana Lúcia, Eliana, Marcelo, Maria Beatriz e Vera falaram ao jornal O Globo sobre o que acharam do filme de Walter Salles.
Vera, a filha mais velha, disse que assistiu a uma cópia crua do filme e que foi impactante. “A cena da prisão da minha mãe me pegou. Precisei parar e sair para fumar”, disse. “Esse filme me ajudou a reparar os efeitos que esse silêncio teve em nós. Não tocávamos no assunto. Minha mãe não falava da prisão”, complementou.
Eliana também falou sobre o filme, relembrando do momento em que esteve presa com a mãe. “Tenho amigos que me conhecem há 40 anos e descobriram pelo filme que fui presa”, diz a filha de Eunice e Rubens, afirmando que nunca falou sobre o acontecido, mesmo que tenha sido noticiado pela imprensa.
A filha Ana Lúcia relembrou de toda a tensão que a prisão da mãe provocou na família. “Os 12 dias que a minha mãe passou na prisão são um branco na minha cabeça. Ela chegou em casa acabada. Não era mais minha mãe”, pontua Ana.
“Voltou muito magra, abatida, quase não falava com a gente. Foi aí que entendi que o negócio era sério”, completa revelando ainda que, na escola, mentia que o pai tinha morrido em um acidente de automóvel. “Torturaram e mataram o meu pai, olha a vida que a minha mãe teve, que a gente teve. E olha como eu estou me vingando: com um filme!”, complementa Ana Lúcia na entrevista.
Forçada a abandonar sua rotina de dona de casa, Eunice (Fernanda Torres/Fernanda Montenegro) se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão.
O filme explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras, destacando o papel das mulheres na resistência. Com uma narrativa profunda e sensível, Ainda Estou Aqui traz à tona questões de perda, coragem e resiliência, enquanto revisita um dos períodos mais sombrios da história do Brasil.
A obra é um tributo à força de Eunice Paiva, que, contra todas as adversidades, se torna uma figura central na luta pelos direitos humanos no país. Coube a Selton Melo o papel de Rubem Paiva.
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