Jornalistas em Pernambuco que acompanharam todos os governos de Miguel Arraes, inclusive o primeiro, interrompido pelo golpe de 1964, como Aldo Paes Barreto, também presenciaram cenas nas quais o velho mito superou a sua performance carrancuda.
Aldo diz que nas poucas vezes que esteve com Arraes, recorda apenas da sua cara fechada, de pouca conversa, extremamente introspectivo e desconfiado de tudo. “Humor zero”, brinca o jornalista, que escreveu por muito tempo colunas políticas nos jornais de Pernambuco.
Leia maisAldo esteve também no outro balcão, o da vidraça, assumindo a Secretaria de Imprensa no Governo Eraldo Gueiros e atuou por muito tempo também no grupo João Santos. Leitor voraz do blog, Aldo é bom contador de causos políticos e até já lançou um livro contendo boas pérolas desse universo da descontração.
Segundo ele, quando voltou do exílio, Miguel Arraes aceitou participar de um jantar com jornalistas, sugestão do seu amigo Fernandinho Correia, pai de André Correia, o Bolota. Por muito tempo afastado do Estado, Arraes não conhecia alguns jornalistas, entre os quais o irreverente Zadok Castelo Branco, uma figura.
Zadok conhecia como ninguém a política do Estado, especialmente a trajetória de Arraes, de quem dizia ser especialista até quando o velho cacique costumava falar por parábolas ou por gestos. Relembra Aldo que, nem mesmo depois de duas garrafas de uísque, Arraes havia relaxado. Estava carrancudo, com poucas palavras, mais ouvindo do que falando, como bom pessedista.
Poucos dias depois, Arraes recebe no Palácio um grupo de jornalistas das sucursais do Sudeste. Amaury Matos, do Jornal do Brasil, perguntou se Arraes era socialista. Diante do silêncio ensurdecedor do velho, o irreverente Zadock pediu a palavra e falou como se fosse porta-voz do governador.
E definiu: “Doutor Arraes é um velho pessedista com uma tinturazinha marxista.
“Foi o único dia que vi Arraes soltar uma gargalhada”, relembra Aldo.
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