Por Ney Lopes*
Hoje, 15 de novembro, centro e trinta e cinco anos da queda da monarquia no Brasil com a Proclamação da República.
O histórico episódio nasceu de mero acaso. O proclamador, marechal Deodoro da Fonseca, era um monarquista empedernido e amigo pessoal de D. Pedro II. Diante da promessa de que, após a destituição do imperador, ele se investiria imediatamente no poder, atendeu ao apelo de um pequeno grupo republicano.
Leia maisAristides Lobo, que participou dos primeiros movimentos republicanos, escreveu o depoimento: “o povo assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada militar!”. Uma das primeiras decisões, após a Proclamação da República, foi a realização de referendo para que o povo legitimasse a nova forma de governo pelo voto. Tal plebiscito somente ocorreu 104 anos depois, no dia 21 de abril de 1993.
Pivô da República
A história registra ainda que Adelaide, viúva aos 34 anos, filha de um general, herói da Guerra do Paraguai, é considerada como a pivô da Proclamação da República. Tudo começou com uma paixão frustrada de Deodoro, na mocidade. O líder liberal gaúcho Silveira Martins, indicado como primeiro-ministro por D. Pedro II, roubou-lhe a namorada Adelaide. O ciúme afetou de tal maneira Deodoro, que passou a prestigiar os conspiradores da monarquia. O golpe militar fatal teve início sem que o próprio proclamador soubesse. Diz-se que Deodoro mandou afastar a tropa do QG no Campo de Santana e gritou para os soldados: “Viva Sua Majestade, o Imperador”.
A realidade atual tem muita semelhança com as origens republicanas. Tome-se, por exemplo, os protestos sobre os gastos públicos. Ao assumir a presidência da República em 1889, o marechal Deodoro da Fonseca aumentou o seu próprio subsídio para 1400 contos de réis. Toda a família real no período de 1841 a 1889, sem reajustes anuais, recebia 800 contos de réis. Outro fato se refere a gastos com viagens dos governantes.
O historiador João Paulo Martino observa que D. Pedro II, fez três viagens internacionais. Pagou-as de seu próprio bolso. Na primeira vez (1871) que viajou ao exterior, ao conceder à Assembleia Geral a necessária licença, o deputado Teixeira Jr. propôs que a Assembleia liberasse uma verba de 2000 contos de réis para a viagem do imperador e da princesa Isabel. D. Pedro II escreveu mensagem de próprio punho para o seu ministro do Império, João Alfredo Corrêa de Oliveira: “espero que o ministério se apresse em fazer desaprovar quanto antes semelhantes favores, que eu e minha filha rejeitamos. Respeito a intenção de todos, mas respeitem também o desinteresse com que tenho servido a nação”. D. Pedro dispensou, ainda, os três barcos que o escoltariam até a Europa. Viajou em um navio de carreira.
A nossa República verdadeiramente começou a nascer, a partir de movimentos como a Inconfidência Mineira (1788), a Confederação do Equador, quando diversos estados do nordeste criaram movimento independentista (1824) e a Revolução Farroupilha (1839), que resultou na Proclamação da República Rio-grandense e Juliana (RGS e SC). No futuro, outras etapas serão vencidas. A dúvida é quanto tempo faltará para a nossa República ser efetivamente consolidada. Talvez isso ocorra, quando um dia o parlamentarismo for implantado no país. Deus queira que em breve!
*Jornalista
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