Por Letícia Lins – para o Oxe recife
Finalmente, está pronta a Ponte Engenheiro Gusmão, que cruza o Rio Capibaribe e liga os bairros do Monteiro (Zona Norte) ao da Iputinga (Zona Oeste). E é entregue após passar anos com as obras paralisadas, período em que se transformou em um cemitério de concreto e ferros retorcidos. Os trabalhos foram retomados pelo Prefeito João Campos (PSB) e exigiram investimentos de R$ 40 milhões.
Isso porque boa parte do que havia sido construído teve que ser demolido por falhas no planejamento da edificação, por parte de gestões anteriores. A ponte começou a ser implantada ainda durante a gestão do então Prefeito João da Costa (PT). Continuou durante a administração de Geraldo Júlio (PSB), porém as obras emperraram por falhas no planejamento. Passaram mais de seis anos paradas, até que Campos decidiu retomá-las. A ponte deveria ter sido concluída no início de julho de 2024, ainda dentro do período permitido para que o prefeito, candidato à reeleição, pudesse inaugurá-la.
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Para evitar problemas com a legislação eleitoral, logo cedo, dezenas de bandeiras do PSB que estavam “ancoradas” nas proximidades da ponte foram removidas. Assessores do prefeito comentavam entre si que João Campos só “não pode cortar fita nem fazer gravação na inauguração”, mas que era permitido “vir ver a obra”. Como não foi possível a conclusão em tempo hábil, a festa de abertura da ponte ao tráfego não foi tão grandiosa como as inaugurações realizadas antes do período oficial de caça ao voto.
Junto com a nova ponte, algumas intervenções no bairro do Monteiro foram efetuadas, como o calçamento da Rua Tapacurá e da Rua 19 de Abril, esta que dá acesso à Ponte da Salvação (que é só de pedestres). A 19 de abril (que fica entre os prédios Hilson Macedo e Porta D´Água) passa a ser mão única, só sendo permitida a entrada de automóveis (pela Dezessete de Agosto) até a garagem do último edifício
A Praça da Monteiro também passou por requalificação, em frente à Escola de Referência Silva Jardim. Ganhou novo revestimento, bancos, lixeiras e sete mudas raquíticas de árvores que não chegam nem aos pés das adultas que foram vítimas da motosserra insana, para ceder espaço para a nova praça, o que é comum no Recife, onde o concreto sempre tem prevalência sobre os espaços verdes no nosso Hellcife.
Já o canteiro da Praça do Monteiro, localizado em frente ao Edifício Mendo Sampaio, está mantido com o desenho original. Comparando o novo e o antigo, o que se observa é que o antigo tem menos concreto do que o agora implantado. Pelos cálculos do #OxeRecife, só do lado da Avenida Dezessete de Agosto (incluindo a calçada do Porta D´Água), umas seis árvores adultas foram erradicadas durante os serviços ali realizados. Infelizmente, não há obra no Recife que não sacrifique parte do patrimônio verde da cidade, de pontes a parques, de parques a creches, de creches a jardins, como o recém inaugurado Jardim do Poço, onde quase 40 árvores, centenárias – entre mangueiras, palmeiras, cajueiros, oitizeiros – foram eliminadas na sua implantação.
O engenheiro Jaime Gusmão, que dá nome à ponte e conta com painel e estátua em sua homenagem no local, nasceu em Caruaru, em 1932. Cheguei a entrevistá-lo algumas vezes, quando ele fez estudos sobre o deslizamento de morros no sítio histórico de Olinda. No pedestal onde está o seu busto, consta que ele foi “engenheiro, professor universitário, cientista, escritor, humanista e boêmio”. Também “militante da sociedade civil, inspirou uma legião de engenheiros. Transformou sonhos em obras para melhorar a vida das pessoas”. Ele é homenageado denominando a ponte, por força da Lei Nº 10 de 2013.
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