O Nordeste cresce; mas precisa vencer gargalos seculares na infraestrutura e desigualdade social

Por Luciana Leão – para a revista Nordeste

Em recente levantamento do IBCR-NE do Banco Central do Brasil (Bacen), o Nordeste avançou 3,2% no 1º trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior, superando o índice nacional de 1% de crescimento. 

A Sudene, em suas atribuições, frente ao desenvolvimento regional dos nove estados e mais Minas Gerais e Espírito Santo, se apresenta como um órgão indutor deste crescimento por meio de suas linhas de financiamento e parcerias com demais instituições públicas da federação e de órgãos estaduais.

Mas, existem gargalos significativos ainda, em especial, à infraestrutura nos estados e municípios,  com urgência de obras estruturadoras, mais inclusão social e acesso ao crédito, além do combate à fome e desigualdades intra-regionais. 

A NORDESTE entrevistou com exclusividade o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, para falar sobre alguns desses temas e as novas mudanças frente às recentes decisões do Conselho Deliberativo que podem minimizar os gaps existentes nos estados e municípios de sua atuação.

“Nós precisamos desconcentrar a carteira. A carteira da infraestrutura hoje está muito concentrada na matriz energética, o que é importante. Mas não adianta você ter só energia se você não tem estrada, se você não tem um porto, se você não tem um aeroporto. O desafio da competitividade tem como pilar central você ter capital humano, ou seja, ter mão de obra qualificada, você ter inovação, ou seja, tecnologia e você ter infraestrutura logística. Esses são três pilares necessários e fundamentais para que a gente possa ter um Nordeste em condições de competitividade com as outras regiões do nosso país”.

REVISTA NORDESTE – Como a SUDENE se apresenta nesse contexto como elemento indutor? A rigor, o aval da SUDENE, vai além dos nove estados. Objetivamente, como Minas Gerais e Espírito Santo, por exemplo, têm contribuído na adoção de políticas de desenvolvimento do semiárido nordestino?

DANILO CABRAL – Vêm contribuindo da mesma forma que o conjunto dos outros nove estados da federação também contribui. Na verdade, a participação de Minas e do Espírito Santo na região de atuação da Sudene se deve pelas características sociais, econômicas, culturais, geográficas que tem mais de 240 municípios de Minas Gerais e 39 municípios do Espírito Santo com o território adotado, como território estratégico para o Nordeste, entendendo o Nordeste. Todo esse território que vai até Minas e Espírito Santo tem sido aplicado de forma efetiva em todo essa região e o principal caminho que a gente quer apontar é mostrar que esse território que durante muito tempo da história do Nordeste foi apresentado como um território problemático para o país, um território seco, com a cara da miséria, da pobreza, que aqui nada que se plantasse dava, nada que se criasse de pecuária conseguia atingir resultado. A gente está mostrando agora que, diferentemente disso, pela impulsão da agenda da sustentabilidade, a gente tem muitas oportunidades nesse território que já começam a mudar a realidade dos quase 60 milhões de nordestinos que vivem nos 11 estados da área da atuação da Sudene.

NORDESTE – Houve um tempo em que Minas, Bahia e Sergipe montaram uma base política contra a transposição do Rio São Francisco, já em curso em quatro estados do Nordeste. Como a SUDENE contribui para a fase fundamental para  a gestão dos recursos hídricos? 

DANILO CABRAL– Esses questionamentos que tiveram lá atrás, na origem de Minas, Bahia e Sergipe, foram totalmente superados a partir do profundo debate que foi feito em torno da obra da transposição. Isso começou lá atrás no governo do presidente Lula e vai ser concluído agora de forma definitiva também. O fato de ter um resultado objetivo dessa importante intervenção, eu digo que junto com a Transnordestina é a obra mais integradora da região Nordeste, já está mudando a vida de 12 milhões de nordestinos que estão tendo acesso a essa água do Rio São Francisco. E ela tem sido usada não só para o consumo humano, para a agricultura, para a pecuária, para o turismo, ou seja, tem um conjunto de alternativas, tanto do ponto de vista da consolidação da cidadania como do desenvolvimento econômico dessas regiões, que mostram que foi uma obra que foi pensada há mais de um século, mas que foi graças à determinação do governo do presidente Lula que ela se materializou e mostra que foi um grande acerto para o Nordeste brasileiro. 

CONSTRUÇÃO DA GOVERNANÇA

O que o MDR, que é o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, e a SUDENE tem de papel também nesse processo, é procurar construir agora, inclusive, uma governança em torno desse sistema. O Ministério da Integração coordena esse diálogo do governo federal, com os estados que estão sendo beneficiados. Já foram feitos acordos e cooperações com o estado do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas, para que a gente possa ter um uso sustentável da água do São Francisco, garantindo não só o acesso dessa água às pessoas, mas garantindo, sobretudo, a questão da sustentabilidade,e do próprio meio ambiente.

FNE

NORDESTE –  O Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste, o FNE, é o principal fomento ao desenvolvimento regional e sustentável da região. Em recente reunião do Condel, a 33ª, foi aprovado o acesso para atividades voltadas a retrofit (processo que visa revitalizar construções antigas) com fins residenciais, inclusive coliving (forma de habitação compartilhada). Como o senhor avalia que tais mudanças possam contribuir para de fato revalidar os centros históricos e também, em paralelo, fomentar outros segmentos econômicos, como a construção civil?

DANILO CABRAL – A decisão do Condel de possibilitar o financiamento de moradias nos centros urbanos e históricos das capitais do Nordeste é fruto de um amplo diálogo que nós praticamos. Que dialogamos com o Setor da Construção Civil, com o sindicato, com os conselhos regionais de Engenharia e Arquitetura, com representações do poder legislativo, do próprio poder executivo, de quem está à frente desse desafio de restaurar esse tecido social, que é o centro das capitais, que em função do processo de transformação econômica que vivenciou o mundo, sobretudo a partir da década de 80, sofreu um profundo processo de degradação. A gente vivencia hoje, isso não é uma particularidade de nenhuma capital do Nordeste, mas do Brasil e até do mundo, um esvaziamento dos centros. Isso só vai ser resolvido, dito por todos os que militam no ambiente do urbanismo, daqueles que conhecem a realidade das cidades, só vai ser resolvido a partir da apropriação da cidade pelas pessoas. E para isso, a gente tem que devolver a esses lugares o acesso à moradia. Temos nos centros urbanos uma infraestrutura adequada, água, saneamento, transporte público, serviços que são prestados, comércio, lazer e tem um interesse de muita gente que quer morar num centro, mas não vai porque não tem uma condição de habitabilidade atrativa. E por outro lado, você tem um setor produtivo da economia, que é o setor da construção civil, que inclusive gera muito emprego e muita renda, que por falta de ausência, por ausência de instrumentos de financiamento, não está conseguindo atender a essa demanda, nós temos estudos de capitais, como por exemplo o Recife, que há 30% de ociosidade de imóveis no centro da cidade, e que precisam ser requalificados para poder as pessoas terem acesso. Então a decisão da Sudene, ela vai nesse encontro. Garantir moradia, que é um grande problema hoje no Brasil, déficit habitacional, 80% desse déficit habitacional está nos centros urbanos, a gente quer aqui garantir a requalificação dos centros urbanos e do patrimônio histórico também, ou seja,  para a requalificação desses espaços públicos, que são importantes para todas as cidades.

NORDESTE – Existem estudos de impacto econômico e social que tais atividades possam reverter para o desenvolvimento sustentável das cidades? Quais fatias da população seriam beneficiadas com essa ressignificação das moradias nos centros?

DANILO CABRAL – Na realidade todos seriam beneficiados, todos serão beneficiados, porque como a gente falou, você tem nas cidades uma infraestrutura já preservada nos centros. Transporte, abastecimento de água, serviços, comércio, lazer, o que as pessoas querem é que esse espaço seja habitável. Uma atração, uma habitabilidade para eles e para isso a gente tem que colocar as pessoas lá dentro, morando nelas. Então o comércio certamente vai ser reativado quando você bota as pessoas para circularem. A gente tem junto com o comércio, junto com a degradação do centro, um esvaziamento econômico do comércio das cidades, ou seja, colocar as pessoas para morar e circular nos centros, reativa também o comércio. Você passa a ter um olhar também sobre o zelo desses espaços, mais cuidado com os espaços públicos, melhoria inclusive dos serviços que podem ser ofertados. A questão da segurança, que é uma questão também muito colocada nesse debate. Certamente quando você também coloca as pessoas para vivenciar esse espaço, o olhar do poder público sobre a questão da segurança também vai ser aprimorado. Ou seja, todas as políticas passam a ter um olhar e uma percepção diferente, tanto de quem mora como quem vai fazer a gestão desses espaços. Porque a partir da presença das pessoas, o nível inclusive de cobrança, o nível inclusive de prestação de serviço, tendem a ser melhores.

FNE VERDE

NORDESTE –  Os investimentos em energias renováveis já é consenso como um modelo a ser seguido para a transição energética no mundo. O Nordeste tem sido visto e atraído investimentos de grandes grupos nacionais e internacionais. Entretanto, a falta de regulação para o exercício justo desse segmento frente às comunidades locais têm sido objeto de indagações de setores diversos. Como a SUDENE atua na diligência desses projetos que, muitas vezes, são erguidos sem ter retornos econômicos e sociais efetivamente para as comunidades locais ?

DANILO CABRAL – A transição energética fruto da imposição da Agenda Mundial de Sustentabilidade apontou para o Nordeste como uma grande oportunidade e isso já vem, de certa forma, se materializando. O conjunto de investimentos que nós temos na região em plantas de energia limpa, solar e eólica, já ultrapassou, nos últimos 10 anos, mais de 120 bilhões de reais. Só do BNDES nós estamos falando de algo em torno de 80 bilhões de reais e quando você coloca Sudene, com FDNE e FNE na operação com o Banco Nordeste, já são quase 50 bilhões de reais. Mostrando que esse é um caminho sem volta. O Nordeste já é responsável hoje por 83% da energia limpa produzida no país. Nós acabamos de chegar, inclusive, de uma missão internacional que fomos junto com o Consórcio Nordeste, com os governadores, com a Apex, com o BNDES, enfim, para justamente vender, no bom sentido, esse destino da energia sustentável para o mundo. E todos reconhecem lá fora já esse potencial do Nordeste. Qual é a preocupação que nós temos nesse processo? É que a gente garanta que essa transição energética seja aproveitada como, de fato, se mostra uma grande oportunidade para que a gente possa equiparar o Nordeste a um padrão de qualidade de vida que, infelizmente, a gente não tem ainda em relação às outras regiões. Então, aproveitar isso para reduzir, de forma definitiva, também as desigualdades regionais e, para isso, a gente precisa incluir as pessoas. Nós não queremos uma transição energética que sirva apenas para gerar commodities, para que a gente possa estar mandando energia para fora e isso não represente absolutamente nada na mudança da vida das pessoas. Nós estamos falando aqui para 60 milhões de nordestinos que estão dentro da área de atuação da própria Sudene. Então, estamos falando aqui para um território que é estratégico para a gente que é o Semiárido. Nosso Plano Regional do Desenvolvimento Nordeste, o Semiárido, é um território estratégico. A maioria dessas plantas estão se instalando no nosso bioma, inclusive na nossa Caatinga. E, da mesma forma que a gente tem oportunidades na transição energética, a gente também precisa estar atento às ameaças que essa transição também pode representar para o nosso bioma. A gente já tem um processo de desertificação que está em curso, que a Sudene também é parte desse debate também, e tem também uma preocupação com todo o conjunto da biodiversidade que está presente na nossa Caatinga.

INCLUSÃO SOCIAL

E nós precisamos garantir, sobretudo, também a inclusão dos pequenos. Ou seja, não adianta a gente ter uma enorme usina solar com 300, 400 hectares de placas solares e, do lado dela, você ter ali uma cooperativa que está fazendo apicultura, ou venda alguma outra atividade ali, que seja localizada de um arranjo produtivo local, e não tem como, condições de… não tem energia de tocar aquilo. Ou seja, essa desigualdade nós não podemos aprofundar. O papel da Sudene é reduzir desigualdades, e nós não podemos permitir que as desigualdades intrarregionais se aprofundem a partir da transição energética. Então, é por isso que a gente tem tido uma preocupação, e aí seguindo a orientação do presidente Lula, de procurar ampliar o acesso ao crédito. O maior desafio hoje, desses pequenos, é conseguir acessar o crédito seja para as cooperativas, para as associações, para as pequenas organizações, arranjos produtivos locais… Ou seja, esse é um desafio que a gente tem que estar permanentemente, enfim, conectado a ele, para não permitir que a gente, não garantindo o acesso, a gente aprofunde as desigualdades regionais e intra-regionais. Ao deliberar mudanças no FNE Verde – Programa de Financiamento à Sustentabilidade Ambiental – para empreendimentos de geração centralizada voltados à locação e arrendamento, abrangendo os empreendimentos relacionados a sistemas de micro e minigeração distribuída de energia, qual seria a principal benfeitoria para a população, de uma maneira geral? A SUDENE avalia que ocorreria mais acesso por parte de uma maioria a uma energia mais “sustentável”?

FUNDO CAATINGA , COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

NORDESTE –  A SUDENE recentemente anunciou  o investimento de R$ 1,5 milhão para estruturar a atualização dos Planos de Ação de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAEs) nos estados de sua área de atuação. Como se dará esse aporte? Quais instituições vão compor o pacto no combate à desertificação?

DANILO CABRAL – A questão da desertificação hoje é uma ameaça real pelos relatórios que inclusive foram divulgados no final do ano passado pelo CEMADEN e pelo INPE, vinculado inclusive ao Ministério da Ciência e Tecnologia, aponta que pela primeira vez nós vivenciamos na nossa região situações de presença de áreas desertas. Ou seja, as mudanças climáticas que têm levado, por exemplo, muita chuva, como a gente está vivenciando lá na região do sul, no Rio Grande do Sul, tem causado também efeitos perversos aqui no sentido inverso, ampliando a área de deserto do nosso semiárido. O que a gente, nesse momento, está fazendo? Junto com o próprio Governo Federal, com o Ministério da Integração e com o Ministério do Meio Ambiente? Nós temos uma vasta política que já está consolidada, desde uma política nacional de combate à desertificação. Nós temos acordos internacionais que o Brasil é signatário dele também. A gente tem, desde 2004, um plano nacional de combate à desertificação e, depois disso, os planos estaduais foram formulados pelos estados do Nordeste. O fato é que esses planos, até em função também do próprio processo da pandemia, paralisaram a sua ação, a sua efetividade. Então, nesse exato momento, nós tivemos um, inclusive nesses últimos dias , num ato lá em Petrolina, em Juazeiro, com a ministra Marina Silva, a Sudene firmou uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente, para que juntos a gente possa atualizar os planos. O Ministério já está fazendo toda uma atualização do Plano Nacional. A expectativa é que agora, no início do segundo semestre, essa atualização seja concluída. E, em paralelo, nós estamos articulando junto com os Estados também a atualização dos planos estaduais e, ao mesmo tempo, dando o suporte necessário para que, tecnicamente, a gente possa ter um ambiente em cada estado da Federação, para que a gente possa tirar esse plano do papel. E o resultado dessa parceria, uma parceria de quase 4 milhões de reais que a gente está fazendo junto com o Ministério do Meio Ambiente, é justamente a gente ter como produto final, também, projetos que os Estados vão apresentar para captação de recursos. Essa é uma ação de forma mais objetiva, imediata e integrada: Governo Federal, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Integração, Sudene e Estados. E eu queria destacar aqui um outro ator que foi importante nesse processo, que são os tribunais de contas. Desde o ano passado, também, cinco tribunais de contas do Nordeste, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe fizeram um profundo trabalho orientativo, de auditoria operacional, justamente para expor por que esses planos pararam. E, a partir dos resultados que os tribunais de contas apresentaram também, nós estamos incorporando essas contribuições para que a gente possa reativar, atualizar o Plano Nacional e tirar do papel os planos estaduais. Esse é o papel que a Sudene tem hoje nessa questão.

NORDESTE –  Em relação ao Fundo Caatinga, em que estágio se encontra a viabilização e efetivação do Fundo junto aos entes federais e estaduais?

DANILO CABRAL – O Fundo da Caatinga é uma resposta estruturante que nós queremos dar à necessidade de investimento na preservação, na regeneração e no aproveitamento da biodiversidade presente no nosso bioma da Caatinga. Lembrando que a Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, que é um área de 12% do território nacional, onde vive 60% da população do Nordeste, quase 25 milhões de pessoas que estão presentes nessa área de atuação e que têm ameaças e que têm oportunidades. E para que a gente possa cuidar de tudo isso, tanto das ameaças como possa garantir também mecanismo de aproveitamento das oportunidades, nós precisamos de recursos. Essa proposta do fundo tem uma origem inclusive de um amplo debate que foi feito pelo consórcio nordeste, os governadores que já vinham discutindo esse assunto. Já tem uma interlocução feita com o próprio BNDES, que vai ficar, de certa forma, coordenando a governança desse fundo. Há poucos dias eu estive com a diretora do BNDES, Tereza Campelo, discutimos esse assunto também e, nesse momento, a gente está aguardando a formatação legal final e, a partir disso, iniciar um processo de captação de recursos. Eu entendo, inclusive, que esse processo de transição energética que está posto hoje, do qual nós já investimos 120 bilhões de reais nos últimos 10 anos, eles deveriam também ter, quem recebe esses financiamentos que estão sendo feitos via BNDES, via Sudene e BNB, como também outros que possam ter aí de financiamento, deveriam também arcar com a contrapartida, com o compromisso social, ou seja, também colocar recursos para o fundo. Muitas dessas plantas, por exemplo, de energia solar, elas se instalam em plena Caatinga e, a partir dali, abre um espaço ali dentro da Caatinga, ou seja, nós precisamos discutir isso de forma muito franca. Os recursos que nós estamos investindo são recursos vultosos, mas eles têm que ter uma sustentabilidade do bioma, que é o principal bioma na nossa região, o único brasileiro. Ou seja, eu entendo claramente que aqueles que recebem recursos de financiamento de todas as instituições financeiras do poder público para fazer investimentos na nossa região deveriam ter uma contrapartida social mais estruturada, que poderiam colocar recursos no fundo da catinga para que a gente pudesse preservar de forma sustentável o nosso bioma.

Paulista - Boa praça

O famoso Relógio das Flores, cartão postal do município de Garanhuns, agora passa a se chamar Relógio das Flores Ivo Amaral, em homenagem ao ex-prefeito e ex-deputado Ivo Tinô do Amaral, responsável pela construção desse que é um dos maiores símbolos da cidade, durante a sua primeira gestão como prefeito da “Suíça Brasileira”.

A cerimônia foi realizada ontem e contou com a presença de dezenas de pessoas. Entre os familiares estava o filho do ex-prefeito, Ivo Amaral Júnior. Com a homenagem, o nome de Ivo fica marcado para sempre, principalmente para as futuras gerações.

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Petrolina - Viva a nossa arte

O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope) e o Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, TV e Publicidade da Bahia (Sinterp-BA) enviaram ofício na sexta (21) ao prefeito de Petrolina, Simão Durando, e ao secretário de Comunicação, Junior Vilela, solicitando mudanças nos procedimentos estabelecidos para o deslocamento da imprensa nos espaços do São João de Petrolina, evento que vem acontecendo no pátio de eventos Ana das Carrancas. 

No texto as três entidades pedem que a Prefeitura retire as restrições de deslocamento e garanta o livre acesso dos jornalistas e radialistas de Pernambuco e da Bahia credenciados a todos os espaços do pátio Ana das Carrancas, para o bom desempenho da cobertura do evento, que é de interesse público.

As três entidades reafirmam no documento os preceitos constitucionais que garantem a liberdade de imprensa e a vedação de restrições ao trabalho de jornalistas e radialistas, e reclamam da diferença de tratamento que vem sendo dado em relação aos profissionais de perfis de redes sociais, a quem vem sendo dado livre trânsito em todos os espaços do evento. 

Por fim, as entidades se colocaram à disposição da Prefeitura para ajudar a garantir o importante trabalho de divulgação do São João de Petrolina em toda a região, através dos respeitados e tradicionais veículos de comunicação. 

O presidente do Sinjorba, Moacy Neves, explica porque a entidade tomou a iniciativa de enviar o documento à Prefeitura de Petrolina. “Fomos procurados nesta quinta (20) por diversos jornalistas de Juazeiro e também colegas de Pernambuco que reclamaram do tratamento diferenciado, desrespeitoso, que estão recebendo na cobertura do evento e, dentro das prerrogativas que nos compete, enviamos carta à gestão municipal para que nos três dias que restam da festa seja restabelecido o direito de livre cobertura pelos veículos e profissionais credenciados, sem as restrições impostas até o momento”, disse ele. 

Moacy informa ainda que conversou com o Sindicato de Jornalistas de Pernambuco e com o Sindicato de Radialistas da Bahia, para que a gestão fosse feita conjuntamente, em nome de todos os profissionais. Para ele, o que importa é o problema ser resolvido. “Os três sindicatos esperam que prevaleça o bom senso e o respeito ao trabalho da imprensa, para que a própria prefeitura colha os resultados positivos de uma boa cobertura jornalística da festa que promove”, conclui.

Ipojuca - Minha rua top

Por Andreza Matais*

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, admite em entrevista à coluna que o governo “está aberto” a desistir do leilão de compra de arroz importado, caso surjam alternativas para conter a alta dos preços e evitar um desabastecimento por causa da tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, maior produtor do cereal.

É a primeira vez que o ministro abre essa possibilidade, e isso ocorre após o governo cancelar a primeira tentativa de realizar o leilão, alegando que houve “falcatrua”, termo usado ontem (21) pelo presidente Lula (PT).

Fávaro disse também que, se dependesse dele, já teria demitido o diretor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) responsável pelo leilão, Thiago José dos Santos. “Não entendo por que não saiu ainda”.

Em meio às negociações para o Plano Safra, o ministro afirmou que seu colega Fernando Haddad (Fazenda) terá que decidir “de que lado está” —se irá conter os gastos ou ampliá-los para atender à demanda dos produtores.

Sobre a demissão de seu secretário Neri Geller por ter ex-assessores envolvidos no leilão do arroz, o ministro disse que agiu como Itamar Franco. O ex-presidente afastou o ministro da Casa Civil, enquanto ele respondia a acusações e o reincorporou depois de inocentado.

Perguntado se, por essa lógica, Lula deveria fazer o mesmo com Juscelino Filho (Comunicações), indiciado por corrupção, respondeu: “Cada um tem as suas atribuições. Eu tenho meus princípios e o meu jeito de governar.”

*Jornalista do UOL

Ipojuca - Minha rua top

Numa prestigiada solenidade, com o plenário da Câmara de Vereadores lotado, o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), desembargador Ricardo Paes Barreto, recebeu, ontem, o título de cidadão de Ingazeira, no Sertão do Pajeú. 

A homenagem, resultado de uma proposta conjunta de todos os vereadores, a pedido do advogado Roberto Morais, filho do município, contou com a presença do vice-presidente do TJPE, Fausto Campos, além dos desembargadores Bartolomeu Morais, Alberto Virgínio e Cláudio Jean, irmãos.

Vice-presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Fausto Campos

O chefe do Judiciário estadual ficou sabendo da homenagem no último dia 4, quando foi visitado pelo presidente da Câmara de Ingazeira, vereador Argemiro de Morais Silva, pelo prefeito do município, Luciano Torres, e pelo deputado estadual Diogo Moraes, além dos advogados Roberto Moraes e Júnior França.

Serra Talhada - Saúde

Na passagem por Petrolina, não poderia deixar de abraçar o meu amigo Domingos Sávio, ex-vice-prefeito do município na gestão Júlio Lossio. Sávio atua em vários setores da atividade empresarial, mas o seu xodó é o restaurante Capivara, um dos melhores e mais aconchegantes da cidade. 

Fica localizado na orla de Petrolina, em frente ao Rio São Francisco. As louças são da cerâmica da Serra da Capivara, muito bonitas. O nome é uma homenagem ao Parque Nacional da Capivara, no Piauí, a 300 km de Petrolina, a maior concentração de sítios arqueológicos conhecida nas Américas.

Um charme é que as cerâmicas artesanais, onde são servidos os pratos e bebidas, vem de lá. Vem de lá também peças que decoram o restaurante. A comida não se limita aos pratos regionais, inclusive tem um prato bem conhecido que é à base de Surubim, peixe muito conhecido em muitos lugares pelo Brasil como Pintado. Um peixe de água doce amplamente encontrado no Rio São Francisco e um peixe símbolo do Velho Chico.

Escolhi um espaguete com Frutos do Mar (R$ 108 para duas pessoas). A massa veio com bastante camarão, polvo, mexilhão e marisco. As opções são as mais variadas, com destaque também para Magret de Pato com Risoto (R$ 66,80). O risoto que acompanha é de damasco, muito bom. Outro destaque é a carta de vinhos, bem completa e tem até uma seleção de vinhos regionais muito boa.

Vitória Reconstrução da Praça

Por Marcelo Tognozzi*

Os livros e os jornais chegavam de contrabando. Eram proibidos naquele Brasil colônia, povoado por degredados, órfãos, escravos, índios e um punhado de senhores. Enquanto a América Espanhola tinha universidades – como a de San Marcos, no Peru, fundada em 1551, ou a biblioteca de Puebla, no México, inaugurada em 1646–, aqui era escuridão total. 

Mais de 300 anos depois do descobrimento, em 1808, foi inaugurada no Rio a Imprensa Régia, cuja missão principal era publicar a Gazeta do Rio de Janeiro, diário oficial da Corte transferida de Portugal, expulsa pelas tropas de Napoleão. Nessa época, surgiu um personagem desafiador da lei e da ordem, sua majestade d. João 6º, o jornalista Hipólito José da Costa, nascido na Colônia do Sacramento, então província Cisplatina (que depois viraria Uruguai), menino em Pelotas, adolescente em Porto Alegre e finalmente diplomado em Coimbra.

O jornal de Hipólito, o Correio Braziliense, chegava contrabandeado em navios vindos da Inglaterra, onde o jornalista se estabelecera depois de perseguido e preso pela Inquisição. Nessa época ele já era um diplomata conhecido e reconhecido pela sua competência, com passagem pelos Estados Unidos e México. Aconselhado por um amigo, comprou ações de um banco escocês e, assim, conseguiu a cidadania inglesa, escapando da ira da Coroa e da Igreja portuguesas. 

Durante anos a fio o jornal cruzou o Atlântico rumo ao Rio, e aquela coisa proibida era vendida de mão em mão, lida e relida até pelos conselheiros mais próximos do rei, inclusive pelo próprio. 

O Brasil sempre fora amordaçado, país onde a ignorância medieval fez parte da nossa formação. Livros permitidos eram pouquíssimos, como a Bíblia em latim, língua falada pelos padres e letrados. O povão respondia a missa em latim sem ter a menor ideia do que significava aquilo e, assim, o ora pro nobis (orai por nós) virou nome de planta integrante da espiritualíssima culinária mineira.

Noves fora gente como o padre Antônio Vieira, o povo brasileiro era rude, ignorante, bruto. Uma energia voltada para a violência e a exploração de riquezas de um território ainda desconhecido, cuja memória se forjou na oralidade, já que a maioria absoluta não lia nem escrevia. 

Por isso, é inacreditável em pleno século 21 uma escola censurar um livro de Ziraldo, morto em abril aos 91 anos, um dos artistas mineiros mais talentosos de todos os tempos, tão importante para o século 20 quanto o Aleijadinho foi para o século 18. Primeiro, porque Aleijadinho sempre foi escultor, mesmo sendo o pai do nosso Barroco, enquanto Ziraldo foi chargista, cartunista, pintor, escritor, dramaturgo, cartazista, poeta, cronista, desenhista, jornalista, apresentador e até advogado. Segundo, porque o homem era uma usina de criatividade e genialidade.

Cresci lendo Ziraldo, rindo das suas charges no velho Jornal do Brasil de guerra, que meu pai assinava e lia todas as manhãs tomando café. Fui ao teatro ver suas peças, adorava “Flicts”, “Turma do Pererê” e outros personagens como Jeremias, o Bom e a Supermãe. 

Lembro do Ziraldo sempre de bom humor na velha sede do Pasquim, na rua Saint Roman, em Ipanema, contando causos com aquele seu jeito mineiro de emendar as palavras. “Entrei no elevador, aquela coisa mais lindumundo. Olhei assim e ela miguinorou. Dei boa tarde, nada. Cara feia. Eu aqui no meu canto, perguntei: umazin nemaginar, né? E num é que quebrei o gelo!”. E ria.

Em cada cidade de Minas deveria ter uma rua ou uma praça com o nome do Ziraldo, com direito a estátua. Ele foi um herói da resistência, contra a censura e o arbítrio. Mas neste Brasil de marcha à ré, estão querendo cancelar o Ziraldo como já tentaram fazer com Monteiro Lobato e até nosso Machado de Assis. Quase caí da cadeira quando li que uma escola da mineira Conselheiro Lafaiete decidiu proibir o livro “Menino Marrom“, no qual Ziraldo conta a história de dois amigos, um negro e outro branco, que tentam entender suas diferenças. 

Cada vez que me deparo com uma barbaridade dessas tenho mais certeza de que estamos caminhando para o abismo. O mesmo abismo no qual este país viveu por mais de 300 anos, proibido de ler e estudar, escravo da própria ignorância. Nós até hoje não temos escola pública integral universal –algo que deveria ser questão de Estado, jamais de governos. 

Quando Darcy Ribeiro estava fazendo o 1º Ciep (Centro Integrado de Educação Pública), em 1983, fui conversar com ele na vice-governadoria, que ficava na rua Senador Dantas, no centro do Rio. 

Eu era um repórter com pouco mais de 20 anos de idade. Darcy, aquela sumidade, generoso, não perdeu a paciência quando fiz a pergunta encomendada pelo meu chefe de reportagem do O Globo, jornal adversário figadal do governo: “Rapaz, se escola integral fosse ruim não existiria nos Estados Unidos, Japão e Europa. Ou a gente educa os meninos, ou o Brasil vai se perder, virar uma sociedade conflagrada, fácil de manipular”. Não era uma profecia, mas uma certeza. Olhem em volta e tirem suas conclusões.

O Brasil acabou com a censura do governo militar em 1979. Os censores foram embora das redações, mas no cinema, antes dos filmes, aparecia a imagem de um documento do Departamento de Censura e Diversões Públicas, assinado pela senhora censora Solange Hernandez. Era uma forma de dizer: estamos de olho. A censura voltou em 2022, quando o TSE decidiu ignorar o artigo 220 da Constituição e censurar previamente um documentário do Brasil Paralelo sobre o atentado à faca contra o então candidato a presidente Bolsonaro. De lá para cá, não paramos. A censura ao livro do Ziraldo não é a causa dessa dor de barriga autoritária; é o efeito.

O pior, como o exemplo vem de cima, é que isso acontece em Minas Gerais, de onde saíram brasileiros como Tiradentes, Tancredo Neves, JK e os signatários do Manifesto dos Mineiros de 1943, a gazua que arrombou as portas do autoritarismo e fez rebrotar a liberdade com o fim da ditadura Vargas.

Nós estamos retornando à era da escuridão. As pessoas deixaram de ler, totalmente enfeitiçadas pelos vídeos da internet, os TikTok da vida, desaprenderam a escrever e a se expressar. Para quem foi exilado das bibliotecas pelo lado perverso da tecnologia, um livro tem quase ou nenhum significado. Conheci um sujeito que gostava de enrolar seus baseados com o papel bíblia de livros da Editora Nova Aguilar, entre eles as obras completas de Eça de Queiroz, que ele fumou sem nunca ter lido. 

Nesta semana, meu amigo Ney Figueiredo me mandou pelo WhatsApp um vídeo do trecho de um debate entre Brizola e Fernando Henrique na campanha de 1994. FHC questiona os Cieps de Brizola e Darcy Ribeiro, questionando se aquelas escolas de tempo integral não eram caras demais. Brizola responde de bate-pronto: “Cara é a ignorância”. Esta mesma, mãe da censura renascida no Brasil.

*Jornalista

Dom Tomás salva vidas, mas precisa ser salvo

Num instante em que o Brasil vive uma fase de horror quase sem exceção na seara pública, pelo fato de os políticos trabalharem em prol do favorecimento próprio, seja em pequena ou larga escala, vem de Petrolina, de onde cheguei ontem, um exemplo para, definitivamente, ainda acreditar na figura do homem público.

Médico por formação, empresário por vocação, ex-prefeito de Petrolina, Augusto Coelho é o caçula de “seu” Quelé, patriarca do clã Coelho, que gerou uma geração de homens notáveis para a vida pública, entre eles Nilo Coelho, uma lenda sertaneja, governador do Estado, o grande benfeitor do Vale do São Francisco.

Nilo morreu de um infarto fulminante poucos dias depois de um discurso antológico como presidente da Casa Alta. Não se submetendo às pressões do regime de exceção, subiu à tribuna e afirmou: “Não sou presidente do Congresso do PDS, sou presidente do Congresso do Brasil”. O filho mais notável de Quelé entrou para a história.

Augusto Coelho, seu ponta de rama, aos 85 anos, continua orgulhando o pai, onde ele estiver. Como Nilo, tem espírito público, vocação para servir sem se servir das posições de alta relevância. Como empresário, dono de um dos maiores curtumes do Nordeste, Augusto se realiza, na verdade, em outro campo: praticando filantropia.

Ele é presidente da Associação Petrolinense de Amparo à Maternidade e à Infância (Apami), fundada em Petrolina há 74 anos, instituição beneficente referência no Interior do Nordeste na assistência aos portadores de câncer. À frente da entidade, se inspira na essência verdadeira do que deve ser um homem público: ver em cada pai seu próprio pai, em cada mãe a sua mãe, em cada filho os seus e em cada ser humano o seu irmão”.

É um gigante. Fez a Apami gerar seu filho mais desafiador: o hospital Dom Tomás, que há dois anos passou a fazer cirurgias de câncer das mais altas complexidades com enorme sucesso. “Recentemente, realizamos um procedimento crânio facial de altíssima complexidade e louvamos a Deus pela salvação de mais uma vida”, disse Augusto.

Em breve, a unidade hospitalar vai ganhar um Centro de Radioterapia, obra que não caiu do céu, mas fruto do esforço da sua articulação nacional junto ao Ministério da Saúde. E tem mais notícias boas: a mão estendida da filantropia chegou com mais R$ 4,5 milhões na aquisição de equipamentos para transformar sua área de radioterapia referência no Nordeste.

Há pouco, começou a funcionar a primeira etapa de expansão do hospital, totalizando 52 leitos de enfermaria, com dois postos de enfermagem e sala de evolução médica. Para manter toda essa estrutura e continuar prestando serviços a milhares de pacientes, inclusive crianças, que moram em 60 municípios dos estados de Pernambuco, Bahia e Piauí, o hospital precisa de mais apoios.

Esta tem sido uma luta incansável para doutor Augusto, que para ser vencida, começa primeiro pelo viés preconceituoso. “Por estar no interior do Nordeste, distante dos grandes centros, muitos poderosos do setor público não acreditam que estamos falando de um dos maiores centros de saúde em tratamento oncológico no Brasil”, desabafa.

O hospital Dom Tomás, que está situado numa região que abrange nada menos do que 2 milhões de habitantes em quatro Estados, têm um custo alto de manutenção: R$ 3 milhões por mês, para manter um quadro de 300 funcionários, entre os quais 92 médicos, que fazem em média 160 procedimentos cirúrgicos por mês, de pequena a alta complexidade. São portadores de câncer que, antes, só teriam tratamento no Recife e em outros centros mais avançados de oncologia.

Felizmente, o doutor Augusto tem tido reconhecimento nacional. Recentemente, recebeu em Brasília uma das mais altas condecorações do Governo Federal, destinada às pessoas que realizam serviços de grande impacto social, através do embaixador Paulino Franci de Carvalho: o título de ‘Grande Oficial da Ordem de Rio Branco’.

A honraria se destina a reverenciar os que se tornam merecedores do reconhecimento do Governo Brasileiro, por algum motivo considerado de grande relevância. Mostrando sua grandeza e sua simplicidade, ao receber a homenagem Augusto disse que deveria ter sido dada não a ele, mas ao hospital Dom Tomás.

O reconhecimento é apenas uma face dessa luta dele que a sociedade e os poderes públicos não podem apenas bater palmas. Têm que ajudar efetivamente, com recursos financeiros e doações de qualquer bem, especialmente equipamentos médicos.  

DOAÇÕES PELO IR – Recentemente, com o objetivo de ajudar a salvar vidas, combatendo o câncer em crianças e adultos, o Hospital Dom Tomás fez uma campanha de arrecadação com ajuda da Receita Federal. Os contribuintes foram estimulados a doar até 3% do Imposto de Renda (IR) para o fundo de apoio ao hospital do município. A legislação permite que até 6% do valor do chamado “Imposto Devido” seja convertido em doação no momento da entrega da declaração, desde que você tenha optado pelo modelo completo de tributação. Ou seja, ao invés de destinar o dinheiro diretamente ao Governo, você terá oportunidade de auxiliar uma entidade sem qualquer custo adicional.

ATRASO PELO ESTADO – Fundamental para o tratamento de pacientes com câncer em diversas cidades do interior de Pernambuco, o hospital Dom Tomás enfrenta uma grave crise financeira devido à falta de recursos e ao atraso no pagamento das parcelas pelo governo estadual. A governadora Raquel Lyra (PSDB), aliás, esteve recentemente em visita à instituição, mas na prática nada foi feito até agora. 

*Por Cláudio Soares

Nos últimos anos, o debate sobre a legalização dos jogos de azar tem ganhado força no Brasil, polarizando opiniões e despertando o interesse de diversos setores da sociedade. Enquanto alguns argumentam que a regulamentação dessas atividades poderia impulsionar a economia e gerar receitas significativas para o Estado, outros levantam preocupações éticas e sociais que precisam ser consideradas cuidadosamente.

Atualmente, o Brasil é um dos poucos países do mundo que proíbe estritamente a maioria das formas de jogos de azar. Essa legislação rígida não apenas cria um mercado clandestino e sem regulamentação, mas também impede a arrecadação de impostos que poderiam ser direcionados para áreas essenciais como saúde, educação e segurança pública.

A legalização dos jogos de azar abriria a possibilidade de uma tributação justa e transparente, proporcionando recursos adicionais para investimentos em infraestrutura e programas sociais. Além dos aspectos econômicos, há também argumentos em favor da legalização, baseados na liberdade individual e na responsabilidade pessoal.

Muitos defendem que adultos devem ter o direito de escolher como gastar seu dinheiro de maneira responsável, desde que não prejudiquem terceiros. A regulamentação rigorosa poderia garantir práticas de jogo justas, protegendo os consumidores de fraudes e manipulações que frequentemente ocorrem em ambientes ilegais.

Por outro lado, críticos da legalização alertam para os potenciais impactos negativos sobre indivíduos vulneráveis, como viciados em jogos de azar e suas famílias. A dependência do jogo é um problema sério que pode levar a consequências devastadoras, incluindo endividamento severo e desestruturação familiar.

Portanto, qualquer legislação que venha a ser implementada deve incluir medidas robustas de prevenção e tratamento do vício, além de controles estritos para evitar abusos. O debate sobre a legalização dos jogos de azar no Brasil não é apenas sobre ganhos econômicos versus preocupações sociais. É uma questão complexa que envolve considerações éticas, jurídicas e sociais que devem ser cuidadosamente ponderadas.

À medida que o país busca reformas significativas em seu arcabouço legal e regulatório, é essencial que todas as partes interessadas – legisladores, especialistas, grupos da sociedade civil e cidadãos comuns – participem ativamente desse diálogo para garantir que qualquer decisão tomada seja equilibrada, justa e orientada pelo bem comum.

Em última análise, a legalização dos jogos de azar no Brasil não é uma questão de “sim” ou “não”, mas sim de como implementar políticas eficazes que maximizem os benefícios econômicos enquanto mitigam os riscos sociais associados.

*Advogado e jornalista

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), vai tomar posse como integrante efetivo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima terça-feira (25). As informações são do Estadão.

Ele vai ocupar uma das vagas destinadas a magistrados do STF que foi aberta com o término do segundo biênio de Alexandre de Moraes na corte, no início deste mês.

Ele foi eleito para o cargo em maio. São os próprios ministros do STF que indicam, por votação, um membro para representar o tribunal na Justiça Eleitoral.

O rodízio das vagas obedece, historicamente, o critério da antiguidade. Por isso, a eleição é simbólica. André Mendonça já era ministro substituto no TSE e agora assume um mandato efetivo de dois anos.

O TSE é formado por sete juízes: três integrantes do STF, dois membros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois juristas eleitos pelos advogados. Além dos titulares, há um juiz substituto para cada uma das cadeira.

A presidência e vice do colegiado são ocupadas somente pelos egressos do Supremo. E, a exemplo do que ocorre no STF, os postos são ocupados de maneira rotativa. Em 2026, ano das próximas eleições gerais, é previsto que Kassio Nunes Marques assuma a presidência do órgão. O vice será Mendonça.

A cantora paraibana Elba Ramalho, principal atração da abertura do São João Multicultural de João Pessoa, na quinta-feira (20), criticou a invasão de outros ritmos na tradição junina. As informações são da Folha de Pernambuco.

“Cada coisa na sua coisa, cada macaco no seu galho, cada dia no seu dia. Mas assume logo que não é São João, que é um festival”, comentou a paraibana. A cantora ponderou que há espaço para outros estilos musicais no São João, mas o Nordeste deveria ser colocado como prioridade.

“Quando o Sul está seduzido por nossa música. Você precisa ir para São Paulo para assistir as bandas de forró, trios nordestino. E aqui no Nordeste isso acabou, quando o mundo se abre. Em Paris, no Japão, todo mundo dançando forró”, opinou.

“Aqui agente tá colocando Alok, que eu amo. Mas, cada coisa na sua coisa, cada macaco no seu galho”, disparou a artista que preferiu não polemizar nem rivalizar em relação a outros artistas, durante a coletiva de imprensa.

“Porque acho que no céu nenhuma estrela atropela a outra, só que acho que quando você tá totalmente seduzido pela nossa música, que é verdade, você precisa ir pra São Paulo assistir Rastapé, Bicho de Pé, Falamansa, as bandas de forró, os trios nordestinos que ganham muito dinheiro em São Paulo”, disse.

O momento era de tensão total. Naquele 28 de agosto de 1961, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, foi correndo para o porão do Palácio Piratini e fez um pronunciamento para uma rádio que a equipe montou de improviso. “Hoje, nesta minha alocução, tenho os fatos mais graves a revelar. O Palácio Piratini, meus patrícios, está aqui transformado em uma cidadela que há de ser heroica (…)”. Ele pedia resistência até o fim.

Aquele seria um dos momentos que faria com que Brizola (1922 – 2004), que morreu há 20 anos, entrasse para a história brasileira. Segundo pesquisadores, ele foi responsável por evitar, via uma rede de rádios, que o golpe militar ocorresse naquele ano. As informações são da Agência Brasil.

Momentos como esse terão destaque em um documentário de Sílvio Tendler, que deve ser lançado no segundo semestre deste ano. Aquele episódio ocorreu depois da renúncia de Jânio Quadros. Como João Goulart, o vice-presidente, estava em missão diplomática fora do País, a cúpula militar posicionou-se para impedir a transmissão de posse para o vice. Houve um impasse e quem assumiu o país foi o presidente da Câmara, Paschoal Ranieri Mazzilli.

De acordo com o neto de Brizola, Leonel Brizola Neto, que cedeu as imagens para o filme e que busca divulgar o legado do avô com uma associação cultural, o então governador tinha a noção da ameaça de uma ruptura democrática. “Ele tinha uma leitura do que estava acontecendo. Naquela época, não havia a facilidade das informações que nós temos hoje. Ele entendeu e começou a organizar (a resistência). Todos os atos do Brizola foram sempre dentro da legalidade democrática”, argumenta o neto.

Em nome dessa legalidade, Brizola passou a utilizar a Rádio Guaíba, através de um ato governamental, para defender a posse do vice. Para o professor de história Adriano de Freixo, da Universidade Federal Fluminense, Brizola foi a figura central da resistência. Freixo ressalta que houve de fato uma tentativa de golpe em 1961, orquestrada pelos que executaram o golpe de 1964.

“Quando Brizola montou a rede da legalidade, com seus discursos sendo transmitidos para todo o Brasil, ele também consegue apoio militar, do Exército no Rio Grande do Sul e da Brigada Militar gaúcha, dispostos a ir para o confronto. Isso faz, inclusive, com que outras lideranças civis se animassem a resistir”, afirmou o professor.

A “rede da legalidade”, como ficou conhecida, congregou mais de 100 rádios pelo Brasil, que passaram a retransmitir discursos pela manutenção da democracia e da legalidade. Brizola passou a denunciar que aviões militares brasileiros teriam ordem para atirar contra o palácio do governo gaúcho. Segundo os pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil, como conseguiu adesão de praças da própria Força Aérea boicotaram as aeronaves para que não decolassem.

Frustração

O professor Adriano de Freixo avalia que Brizola estava disposto, inclusive, a partir para o confronto, se fosse necessário. “Como ele mesmo disse em alguns depoimentos, a ideia dele era marchar para o Rio de Janeiro e dissolver o Congresso, já que parlamentares tinham sido coniventes com tentativa de golpe e garantir a posse do Jango”, afirma o professor. Foi uma decepção para Brizola ter conhecimento de que Jango concordou com uma solução conciliatória e assumiu um regime parlamentarista provisoriamente.

A frustração de Brizola com o presidente deu-se diante de um contexto político. Pesquisadores do período entendem que havia expressivo apoio popular à posse de Jango em 1961. De acordo com o sociólogo Yago Junho, que também pesquisa a trajetória de Brizola, o então governador do Rio Grande do Sul ganhou a opinião pública porque compreendeu a importância do processo de comunicação.

“A batalha política é a batalha das comunicações. Mais de 70% da população apoiava a posse do Jango e o Brizola, em relação a esse apoio popular, queria efetivamente promover mudanças”, analisa o sociólogo. Os pesquisadores avaliam que Brizola foi hábil, mas não contava que Jango iria curvar-se às condições dos militares.

Legados

Os pesquisadores da trajetória de Leonel Brizola entendem que a infância pobre no Rio Grande do Sul foi fator decisivo para as escolhas políticas do homem que foi governador de dois estados, o que ele nasceu, e o Rio de Janeiro. Yago Junho analisa que Brizola defendeu o trabalhismo e os direitos da Consolidação das Leis do Trabalho.

O historiador Adriano de Freixo vê Brizola como uma das figuras públicas mais importantes da segunda metade do século passado. “Ele construiu uma carreira política muito profícua. Ele defendeu melhor distribuição de riquezas, com propostas como a realização da reforma agrária, educação integral nas escolas e defesa do país diante de pressões estrangeiras”, diz

Os pesquisadores assinalam que Brizola acreditava que a educação seria a forma de gerar uma construção de uma sociedade menos desigual, tanto na gestão do Rio Grande do Sul (1959 – 1963) como do Rio de Janeiro (1983 – 1987 e 1991 – 1994). O resultado foi que houve redução do analfabetismo com a construção de mais de seis mil escolas. No Rio de Janeiro, ele implementou a ideia do antropólogo Darcy Ribeiro e criou os Centros Integrados de Educação Pública (Ciep) para fazer valer a educação integral.

Contra o “atraso”

Além da educação, outra marca de Brizola foi a defesa enfática da reforma agrária. O sociólogo Yago Junho crê que Brizola “pagou um preço muito alto” pelas ideias que defendia. “O final da vida dele num ostracismo tem a ver com uma incompreensão sobre o legado político dele”. Uma das acusações dos opositores é que teria havido uma política ineficaz de segurança pública e que a criminalidade aumentou. O resultado foi, segundo avalia, um final de vida no ostracismo.

Em entrevista à Rádio Agreste FM, nesta sexta-feira (21), o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Álvaro Porto, reforçou o apoio à pré-candidatura do ex-prefeito Celso Onofre ao Executivo de Ibirajuba, no Agreste.

Ao lado do deputado estadual João Tenório, Porto afirmou chegar a hora de Ibirajuba “voltar a ser destaque na região”. A pré-candidatura é fruto do entendimento entre vários grupos políticos da cidade.

Daqui a pouco entra no ar o Sextou, que desta vez homenageará a cantora Dalva de Oliveira, considerada uma das rainhas da Era de Ouro do Rádio. Entre as canções eternizadas em sua voz estão “Tudo acabado”, “Que será”, “Ave Maria no Morro” e “Bandeira Branca”.

Quem fala sobre a trajetória dela é a cantora e atriz carioca Mona Vilardo, que faz shows pelo Brasil cantando os sucessos da diva e é autora do livro infantil “Dalva, minha vó e eu”.

O Sextou vai ao ar das 18h às 19h, pela Rede Nordeste de Rádio, formada por 48 emissoras em Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Bahia, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM. Se você deseja ouvir pela internet, clique no link do Frente a Frente acima, no alto da página deste blog, ou baixe o aplicativo da Rede Nordeste de Rádio na Play Store.

O prefeito de Petrolina, Simão Durando, do União Brasil (UB), recebeu, nesta sexta-feira (21), em almoço, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL-AL), o presidente do partido, Antonio Rueda, e o líder do UB na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (UB-BA). Eles estão na cidade para conhecer a estrutura do polo junino no Pátio Ana da Carrancas. Também estiveram presentes no encontro o deputado federal Fernando Bezerra Filho, o deputado estadual Antônio Coelho, o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho e o ex-senador Fernando Bezerra Coelho.

Por Aldo Paes Barreto*

Pela terceira ou quarta vez, o clássico do folclore russo – dança do Cossacos – volteia sobre o Nordeste musical e deixa marcas sonoras de bom gosto. Primeira fez, quando aqui aportaram exilados, fugindo de guerras que nem eram deles os nobres cossacos traziam no matulão, suas músicas, suas gaitas e a arte de dançar, montando belos cavalos negros com tanta graça e maestria que pareciam ter nascido em cima deles.

Eram os anos 1940. À frente o líder general Ivan Pavlechenko. O grupo instalou-se em São Caetano e ali encontrou o mais alto funcionário público federal e e um cidadão sempre disposto a ajuda o próximo: Aldo Tresse Paes Barreto, meu pai. O general pedia renovação de licença de livre trânsito no estado (escrita do município de São Caetano). Constavam ainda do prontuário, as fichas do próprio Ivan, de Eufenyuz Brucki (Bruscky), Pedro Gabueff e dos cantores Miguel Nemolovsky, Miguel Klutchko, Jorge Medvedeff e Timoteo Scripnic.

Na carta destinada ao Secretário de Segurança Pública do Estado de Pernambuco, Pavlechenko afirma que o grupo estava reduzido a cinco membros, todos cossacos russos, combatentes da grande guerra e expatriados daquela nação, após o movimento revolucionário de 1918, por motivos de ordem política.

Esse conjunto já se achava no Brasil desde 1933, percorrendo todos os Estados, do Rio Grande do Sul ao Pará, e se exibindo em diversas localidades, inclusive nas capitais dos Estados, com os seus trabalhos de equitação, no molde dos exercícios da “Cavalaria dos Cossacos Russos”, além do conjunto vocal, que tão calorosos aplausos arrancou de grandes assistências em todos os recantos do território brasileiro. Segundo Pavlechenko, os Cossacos foram patrocinados em diversas ocasiões por autoridades públicas, como em apresentações na Vila Militar do Rio de Janeiro. Tinham, inclusive, cartas de recomendação do General Eurico Gaspar Dutra.

No Recife, realizaram no Clube Português apresentações exclusivas para autoridades como o General Mascarenhas de Moraes e o prefeito Novaes Filho. No clube, o público foi ver números orpheônicos dos folklores russo e brasileiros e contou com distribuição gratuita de vodca.

Os cossacos também se exibiriam no Teatro de Santa Isabel apresentando músicas típicas de guerreiros do Cáucaso e estepes russas. Em Pernambuco, aconteceram ainda apresentações em Olinda (no mosteiro de São Bento), Jaboatão, Caruaru, Triunfo, Timbaúba e Nazaré da Mata, no Cine Lux. E aqui encontraram um irmão gêmeo: mesmas andanças, mesmo ritmo, mesma alegria. O frevo.

A presença musical cossaca permaneceu entre nós durante anos presentes nas estradas empoeiradas e esburacadas, percorridas pelos caminhões, presente nos forros, nas harmônicas, gaitas de boca fazendo as festas.

No início dos anos 1950, eu já não registrava nenhuma lembrança dos cossacos, quando fui estudar no Colégio de Caruaru. Ali, ganhava um amigo Luiz Gonzaga, menino como eu, sertanejo, sempre conduzindo duas preciosidades, presentes do avô, mestre em sua cidade:
o estojo de lápis, pouco usado. e uma gaita de boca lembrança do velho mestre de banda o no Sertão de Pernambuco.

Então, as noites caruaruenses erma preenchidas com duas músicas sempre presentes. A Dança dos Cossacos e a música natalina, Noite Feliz. Luiz Gonzaga tocava as duas muito bem, A primeira era atraente, alegre e, por isso mesmo juntava a meninada, só dispensada com a intervenção do censor mandado todo mundo para a cama. A segunda, era triste. Não tinha plateia. Além de nós dois. Ele tocando, eu ouvindo.

Noite Feliz, provocava um frio intenso. E era tanto frio que, me acompanhava até e a cama, onde rezava e enxugava os olhos. Anos e anos depois, descobri que não era o frio que incomodava. Era saudade mesmo. E parecia não ter fim.