Sertanejos recifenses

Três sertanejos, de três áreas de atuação distintas: Gonzaga Patriota, de Sertânia, na política; Cristina Amaral, também de Sertânia, no mundo musical, e este blogueiro, de Afogados da Ingazeira, da área de jornalismo.

O encontro foi na Câmara de Vereadores do Recife, cidade que acolheu, há pouco, numa linda e emocionante solenidade, Patriota como seu novo cidadão. Cristina e eu já somos igualmente cidadãos recifenses.

O prefeito João Campos assinou, na tarde desta segunda-feira (17), o documento de desapropriação dos prédios do Edifício Trianon e do Cine Art-Palácio para a construção do novo campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE). Os edifícios, agora em posse da Prefeitura do Recife, serão doados para o Ministérios da Educação, que irá realizar a obra nos imóveis.

A iniciativa faz parte do programa de revitalização do centro da cidade, o Recentro. “Serão mais de 1.400 alunos, além da reabilitação da sala de audiovisual, que será usada como auditório do Instituto e sala de cinema. Todos vão ganhar com essa ação, principalmente o Recife, com os prédios preservados para um fim tão nobre como a educação”, disse Campos.

No documento assinado pelo prefeito João Campos, os prédios passam a ser posse da Prefeitura do Recife, assim, a próxima etapa do projeto é a doação para o Ministério da Educação, que irá realizar a obra. Na Carta Compromisso para a execução do projeto, já enviada ao MEC, a PCR detalha as ações de apoio à implantação da unidade de ensino, como parte do novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC).

Os imóveis possuem grande valor histórico e arquitetônico para a cidade. O Edifício Trianon, construído nos anos 30, é um marco da arquitetura modernista e já foi adaptado para diversas funções, incluindo consultórios médicos e uma faculdade, e agora está apto para abrigar o novo campus do IFPE com poucas modificações. Já o Cine Art-Palácio, inaugurado em 1940, é um ícone do patrimônio cultural do Recife, conhecido por sua sala de projeção.

Ex-prefeito e pré-candidato da federação Brasil da Esperança (PT/PV/PCdoB) à Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes (PT) denunciou ontem a possibilidade de risco de enchentes e alagamentos em diversos pontos do município por descaso e obras mal feitas. E criticou o atual prefeito Mano Medeiros (PL) por “não preparar a cidade para o inverno”.

Em visita ao bairro da Muribeca, na Regional 4, Elias denunciou o que classificou como “aterros criminosos” em áreas que deveriam funcionar como “esponjas naturais” para drenar águas das chuvas.

“Muribeca encontra-se submersa por conta de uma omissão patrocinada pela gestão de Anderson Ferreira (PL) e Mano Medeiros. A população tem sido diretamente prejudicada por interesses obscuros de um projeto de poder que atende única e exclusivamente ao grupo Ferreira. E o mais preocupante é que esse é apenas o começo de um pesadelo sem precedentes”, observou.

A declaração faz alusão ao aterramento desordenado do solo, prática que tem obstruído o curso de águas pluviais, resultando, consequentemente, na formação de pontos de alagamento. “Estamos praticamente no início do inverno, com órgãos como a Apac [Agência Pernambucana de Águas e Clima] emitindo alertas constantes sobre a intensidade das chuvas e, em vez de ter preparado a cidade, Mano e Anderson Ferreira têm transformado Jaboatão na lixeira da Região Metropolitana”, afirmou Elias.

Da Folha de S. Paulo

A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,44%, nesta segunda-feira (17), aos 119.137 pontos, com investidores de olho na nova decisão sobre a taxa de juros do país e no cenário fiscal, que ainda gera cautela no mercado. Já o dólar encerrou em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,421 —seu maior valor desde 4 de janeiro de 2023, início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando fechou a R$ 5,451.

Com incertezas domésticas persistentes no radar, o mercado engatou a semana de olho na quarta-feira (19), quando será divulgada a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) sobre o patamar da taxa básica de juros do Brasil, a Selic.

A expectativa é que o colegiado decida, por unanimidade, manter a taxa no atual nível de 10,50% ao ano. Na visão de analistas ouvidos pela Folha, um novo racha entre os membros do colegiado, como ocorreu em maio, provocaria mais ruído no mercado e colocaria a credibilidade do BC na mira. Por isso, a previsão é de uma votação sem divergências e um comunicado mais coeso.

A manutenção da taxa Selic em 10,50% foi também prevista pelo boletim Focus: agora, economistas consultados pelo BC esperam que não haja mais nenhum corte nos juros até o final do ano. A projeção é 0,25 ponto percentual maior do que projetada no último ajuste de expectativas, após duas semanas sem alterações.

As análises levam em conta a deterioração das expectativas de inflação, a depreciação do real frente ao dólar, a percepção de maior risco fiscal e a incerteza externa, além da atividade econômica resiliente.

Nas últimas semanas, a pressão para o governo cortar gastos cresceu, conforme investidores perdiam confiança no compromisso do governo com o equilíbrio nas contas públicas. O risco de mudança das regras do arcabouço fiscal para acomodar o crescimento das despesas obrigatórias entrou no radar após encontro do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 7 de junho, com representantes de instituições financeiras.

Após a reunião, rumores sobre uma possível mudança no arcabouço fiscal passaram a circular, o que levou à disparada do dólar diante de temores sobre a situação fiscal do Brasil.

A rejeição pelo Congresso da MP (medida provisória) restringindo o uso de créditos do PIS/Cofins para financiar a desoneração da folha de pagamento das empresas de 17 setores e municípios elevou o pessimismo. A derrota gerou preocupação no mercado sobre um possível enfraquecimento de Haddad no governo.

À luz da necessidade de cortar gastos, o presidente Lula participou, nesta segunda, da reunião da JEO (Junta de Execução Orçamentária), colegiado de ministros responsável pelas decisões de política fiscal e orçamentárias do governo. Esta não foi a primeira vez que ele participa desse tipo de reunião, mas sua presença é rara.

Nesta segunda, ainda houve pressão vinda de dados mais fracos da economia chinesa. A produção industrial de maio do país asiático ficou aquém das expectativas e a crise no setor imobiliário não mostrou sinais de abrandamento, pressionando o minério de ferro.

Decano da Câmara dos Deputados, o ex-deputado Gonzaga Patriota, filho de Sertânia, no Sertão dó Moxotó, agora é cidadão do Recife. O título partiu da Mesa Diretora da Casa e foi entregue, há pouco, pelo presidente Romerinho Jatobá.

Se tivesse sido reeleito, Patriota teria chegado ao décimo primeiro mandato. Com mais de 40 anos no parlamento, se manteve fiel às causas do Sertão, do Nordeste, de modo especial de Pernambuco e do País.

Do Poder 360

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse nesta 2ª feira (17.jun.2024) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou mal impressionado com o montante de subsídios dados pelo governo brasileiro. Segundo ela, que esteve com o petista nesta manhã, o chefe do Executivo pediu que fossem apresentadas alternativas para conter o crescimento dessas renúncias fiscais e tributárias.

“Esses números foram apresentados para o presidente, que ficou extremamente impressionado, mal impressionado, com o aumento”, declarou a Tebet a jornalistas no Palácio do Planalto, em Brasília. De acordo com a ministra, a renúncia tributária, de benefícios financeiros e creditícios, está no patamar de R$ 646 bilhões.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também participou do encontro. Os 2 principais integrantes da equipe econômica mostraram para o presidente o relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre o Orçamento de 2023 do governo.

Tebet e Haddad têm falado bastante sobre a revisão e corte de gastos. Entretanto, depois da reunião de 2ª feira (17.jun), nenhum ministro nem outros integrantes do governo deu destaque à promessa da semana passada sobre fazer uma revisão “ampla, geral e irrestrita” nos gastos públicos. O anúncio parece ter ficado apenas no campo da retórica, pois no fim o presidente Lula disse que não vai reduzir nada nos limites mínimos de despesas com saúde e educação.

Há sinais de que a ala mais à esquerda do PT resistirá de maneira vigorosa a qualquer corte de despesas mais relevante. O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Marcio Pochmann, fez uma crítica velada a Haddad no fim de semana. Para Pochmann, medidas alinhadas ao neoliberalismo alimentam o nazifascismo.

A equipe econômica se comprometeu a equilibrar as contas públicas. Em 2024, a vontade do governo é que os gastos sejam iguais às receitas, ou seja, espera-se um deficit zero. A questão é que a gestão fez muitas medidas para aumentar a arrecadação, mas poucas para reduzir as despesas. Essa constatação preocupa o mercado financeiro.

A percepção da equipe econômica é que a prioridade é analisar benefícios e mecanismos que claramente passam por algum tipo de irregularidade ou precisam de alguma reavaliação. Um dos mais citados é o BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Perguntado por jornalistas depois que saiu do Planalto se a revisão de alguma categoria foi apresentada para Lula, Haddad respondeu: “Falamos sobre todos os cadastros”. Não quis dar mais detalhes.

Segundo o ministro da Fazenda, a reunião teve como foco central a apresentação de dados e números sobre as contas públicas para que fosse possível mensurar e entender os impactos de alguns gastos.

“A Casa Civil, Planejamento e Fazenda prepararam vários gráficos para ele [Lula] compreender a evolução das despesas e o que isso significa em termos de impacto”, afirmou o ministro.

Tebet e Haddad disseram que uma nova reunião para apresentar as opções para acomodar os gastos tributários deve ser realizada em um 2º momento.

“Nos deu o tempo para que possamos nos debruçar sobre esses números, sair com alternativas e é isso que nós vamos fazer na próxima reunião com o presidente”, afirmou a ministra.

Além de Tebet e Haddad, os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos) também participaram da reunião com o presidente Lula.

No caso do ministro da Fazenda, essa foi a 2ª reunião do dia com o petista. Mais cedo, ele estava no Planalto com líderes do Congresso. Falaram sobre a aprovação de projetos do governo no Senado e na Câmara antes do recesso legislativo, especialmente a regulamentação da reforma tributária.

Da Folha de Pernambuco

O presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Álvaro Porto, informou em discurso na tarde desta segunda-feira (17), no plenário, que enviou ofício à governadora Raquel Lyra solicitando que, em respeito à Lei de Diretrizes Orçamentárias, os pagamentos das transferências aos municípios pernambucanos referentes às emendas parlamentares sejam realizados de forma equitativa e impessoal, independentemente da autoria.

Segundo ele, na última sexta-feira (14), os parlamentares receberam com alegria, através dos órgãos de imprensa, a notícia de que o Governo do Estado estaria realizando o pagamento de R$ 32 milhões aos municípios referentes às emendas parlamentares.

“Contudo, analisando-se os dados destes pagamentos, constatou-se que não fora realizada a execução de forma equitativa das transferências especiais aos municípios, conforme previsto no art. 55 da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024”, afirmou. Esta realidade, segundo ele, motivou o encaminhamento do ofício.

“Cumprimentando-a inicialmente, venho, através do presente ofício, acusar que esta Assembleia Legislativa identificou que 18 (dezoito) parlamentares não tiveram, até o presente momento, nenhum valor executado de suas emendas impositivas apresentadas ao Orçamento 2024. Ao mesmo tempo, outros parlamentares foram contemplados com uma execução substancial das suas propostas”, diz.

Mais adiante: “Diante desse fato, solicito de V. Exa. os valorosos préstimos no sentido dar cumprimento à obrigatória execução, de forma equitativa, das emendas parlamentares impositivas à Lei Orçamentária Anual de 2024”, disse no discurso, lembrando que esse direito “emana diretamente da Constituição do Estado de Pernambuco, art. 123-A”, completa a nota de ofício..

A Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ) da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) realizou uma audiência pública, nesta segunda-feira (17), no auditório Sérgio Guerra, para discutir a PEC nº 21/2024, de autoria do deputado Waldemar Borges, que altera a Constituição do Estado de Pernambuco para que o cargo de administrador-geral do Distrito Estadual de Fernando de Noronha seja eleito diretamente pela população do arquipélago. Atualmente o administrador é escolhido e nomeado pelo/a governador/a do Estado.

“Esse é um processo extremamente importante e que precisa haver muita discussão para que possamos tomar uma atitude que continue valorizando Fernando de Noronha por ser um patrimônio não só de Pernambuco, mas do Brasil e do mundo. Portanto é preciso que essa Casa tenha uma responsabilidade muito grande”, disse o presidente da CCLJ, Antônio Moraes.

O autor da proposta de Emenda à Constituição, Waldemar Borges, ressaltou que espera que ao concluir esse processo de discussão que sejam construídos os melhores caminhos para ilha. O parlamentar se contrapôs a alguns argumentos contrários à proposta, como o que coloca que um processo eleitoral poderia levar a deformações na ilha.

“Sabemos que isso é um risco, mas acredito que esse risco ocorre com maior gravidade com um administrador nomeado pelo/a governador/a. Essas deformações, esses benefícios, algumas generosidades que podem surgir no processo eleitoral não é uma exclusividade de alguém que venha a ser eleito. O maior antídoto que podemos ter para que não tenhamos essas deformações é eleger um morador da ilha, que tem sua família lá e que vive os problemas de Noronha. O que precisamos é ter instâncias de controle efetivas para evitar que isso ocorra”, disse.

O deputado inclusive adiantou que vai propor novos regras para fortalecer o Conselho Distrital de Fernando de Noronha, logo após a aprovação da PEC.

O parlamentar ressaltou que de 1988 até hoje Noronha teve 18 administradores. Uma média de um a cada dois anos. “Isso é uma quebra administrativa muito nociva aos interesses da ilha. Isso não é razoável nem sensato. Estou convencido da importância dessa PEC. É um assunto complexo, mas quando há disposição política a gente vai resolvendo as adversidades e divergências”, concluiu Borges

O presidente do Conselho Distrital, Ailton Júnior, lembrou que a ilha nunca viveu uma plena democracia. “Quando vem um administrador de fora, ele não conhece nada de Noronha porque tudo lá é diferente, inclusive as leis e decretos. Viemos aqui hoje para pedir que esse administrador biônico não exista mais”, frisou.

O representante da Procuradoria Geral do Estado, Marcelo Casseb, falou que a ideia de fortalecer ou aperfeiçoar o sistema administrativo de Fernando de Noronha com o argumento de se consolidar uma prática democrática na ilha, achava elogiável e que estava lá para discutir isso. A relatora da proposta, deputada Débora Almeida, também disse que era muito importante fazer esse debate.

A audiência pública também contou com as presenças dos deputados Joãozinho Tenório e Eriberto Filho, dos conselheiros distritais Marilde Costa (Véia), Milton Luna, Otávio Minervino, Daniel Oliveira, Cassiana Barros e Carine Cirlene, do presidente do Conselho de Turismo de Fernando de Noronha, Hayrto Menezes, do presidente da Associação de Hospedarias Domiciliares de Fernando de Noronha – AHDFN, Ailton Flor, da presidente da Associação dos Artesãos, Magda Maria, da representante da Associação das lanchas, Dora Costa, do desembargador Eurico Barros e do empresário Fernando Mendonça, além de moradores do arquipélago.

Da Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, nesta segunda-feira (17), a lei que prevê a criação, por estados e municípios, de planos de metas para o enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. O texto condiciona o acesso a recursos federais relacionados à segurança pública e aos direitos humanos à elaboração e atualização regular desses documentos.

Lula destacou a importância da divulgação das leis de proteção às mulheres e lamentou o fato de que, após 18 anos da Lei Maria da Penha, ainda exista esse tipo de violência. “A gente vai fazendo lei para proteger a mulher, mas o homem continua solto”, desta

Segundo o presidente, se as mulheres souberem que existe a lei e que ali há uma certa garantia para elas, começam a ter coragem de fazer a denúncia. “Nós temos que divulgar, a pessoa tem que saber que tem uma lei, porque, se deixar apenas com as pessoas que têm uma certa formação, que podem procurar o advogado, as mulheres vão continuar sendo vítimas do mesmo jeito”, acrescentou Lula, durante reunião privada no Palácio do Planalto.

O presidente falou também sobre a criação de um “estatuto de bom comportamento do homem” e de fazer o tema constar no currículo da educação básica. “Eu estou convencido: se a gente não discutir essas coisas lá fora, se a gente não começar a pensar em formar um novo homem, uma nova mulher, isso começa pelo ensino fundamental, isso começa pelo ensino médio. A escola é o espaço para a gente tentar mostrar um alinhamento de comportamento do ser humano”, disse.

A nova lei, aprovada pelo Congresso em maio, diz que os entes federados deverão implementar a Lei 14.164/21, que determina a inclusão de conteúdo sobre a prevenção da violência contra a mulher nos currículos da educação básica e institui a Semana Escolar de Combate à Violência contra a mulher.

“O cara que não tem caráter, o cara que levanta a mão para bater na mulher, para atirar em uma mulher, para dar um soco na mulher, é porque o cidadão não presta enquanto ser humano. Ele não presta, ele não está bem formado. Então, é triste, no século 21, a gente estar discutindo uma coisa dessa magnitude, com Constituição bem feita, com todas as leis aprovadas”, destacou Lula em sua fala.

Além do plano de metas, os estados terão de criar uma rede estadual de enfrentamento da violência contra a mulher e uma rede de atendimento às vítimas. Essas redes poderão ser compostas pelos órgãos públicos de segurança, saúde, justiça, assistência social, educação e direitos humanos e por organizações da sociedade civil.

O texto determina que os planos de metas deverão conter, de acordo com as competências constitucionais do estado ou do município, diversas iniciativas, como a inclusão disciplina específica de enfrentamento da violência contra a mulher nos cursos regulares das instituições policiais e o monitoramento e reeducação e acompanhamento psicossocial do agressor.

Os entes também devem assegurar a expansão das delegacias de atendimento à mulher; ampliação dos horários de funcionamento dos institutos médico-legais e dos serviços de atendimento à mulher em situação de violência; e disponibilização de dispositivo móvel de segurança que viabilize a proteção da integridade física da mulher.

Por fim, a nova lei determina que o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) armazene informações para auxiliar nas políticas públicas de enfrentamento da violência contra a mulher. O Sinesp já coleta dados para ajudar na execução de outras políticas.

Da Agência Brasil

O Conselho Pleno da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) aprovou nesta segunda-feira (17), por aclamação, um parecer que define como inconstitucional, inconvencional e ilegal o projeto de lei (PL) que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao homicídio. Com 81 membros, o Conselho da OAB é o órgão máxima da instituição que representa a advocacia brasileira.

“Absoluta desproporcionalidade e falta de razoabilidade da proposição legislativa em questão, além de perversas misoginia e racismo. Em suma, sob ótica do direito constitucional e do direito internacional dos direitos humanos o PL 1904/2024 é flagrantemente inconstitucional, inconvencional e ilegal”, afirma o parecer.

O documento considera ainda que o PL remonta à Idade Média, sendo “atroz, degradante, retrógrado e persecutória a meninas e mulheres”. De acordo com o parecer, “[o PL] obriga meninas e mulheres, as principais vítimas de estupro, a duas opções: ou ela é presa pelo crime de aborto, cujo o tratamento será igual ao dispensado ao crime de homicídio simples, ou ela é obrigada a gerar um filho do seu estuprador”.

O Conselho votou a favor do parecer produzido por comissão formada por cinco representantes da OAB, todas mulheres, lideradas pela conselheira da Silvia Virginia Silva de Souza, atual presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos.

“75 mil estupros por ano, 58 mil desses estupros contra meninas de até 13 anos, 56% negras. O retrato das vítimas deste projeto de lei, se aprovado, são meninas pobres e negras que tem voz aqui, sim, nesse plenário. Eu vim desse lugar”, disse Silvia de Souza durante a sessão do Conselho da OAB.

O parecer foi feito à pedido do presidente da Ordem, Beto Simonetti, que destacou que o documento aprovado hoje não é uma mera opinião da instituição. “É uma posição da Ordem dos Advogados do Brasil, forte, firme, serena e responsável. E, a partir dele, nós continuaremos lutando no Congresso Nacional, através de diálogo, e bancando e patrocinando a nossa posição”, afirmou.

O documento aprovado pelo Conselho da OAB pede que o projeto de lei que equipara o aborto ao homicídio seja arquivado ou, caso aprovado, que o tema seja levado ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Inconstitucional
O parecer afirma que o PL 1.904/24 viola à Constituição por não proteger e garantir o direito à saúde, principalmente às mulheres vítimas de estupro. Segundo o parecer, a pena imposta pelo projeto à mulher vítima de estupro, por ser maior que a pena imposta hoje ao estuprador, também viola o princípio da proporcionalidade que deve reger o direito penal.

“Atribuir à vítima de estupro pena maior que do seu estuprador, não se coaduna com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade da proposição legislativa, além de tratamento desumano e discriminatório para com as vítimas de estupro”, diz o documento.

De acordo com o projeto, a mulher poderá ter uma pena que chega a 20 anos, enquanto o estuprador pode pegar, no máximo, 10 anos de cadeia.

O documento aprovado hoje pela OAB destaca ainda que o texto “grosseiro e desconexo da realidade” não considera as dificuldades que as mulheres e meninas vítimas de estupro têm para acessar o aborto legal.

“O PL não se preocupou com a possibilidade de uma descoberta tardia da gravidez, fenômeno comumente percebido nos lugares mais interioranos dos Estados brasileiros, ou ainda, com a desídia do Estado na assistência médica em tempo hábil”, argumentou.

Segundo a OAB, as dificuldades impostas pela realidade justificam a interrupção da gravidez acima da 22ª semana.

“No Brasil, o abortamento seguro está restrito a poucos estabelecimentos e concentrada em grandes centros urbanos. A dificuldade em reconhecer os sinais da gravidez entre as crianças, ao desconhecimento sobre as previsões legais do aborto, à descoberta de diagnósticos de malformações que geralmente são realizados após primeira metade da gravidez, bem como à imposição de barreiras pelo próprio sistema de saúde (objeção de consciência, exigência de boletim de ocorrência ou autorização judicial, dentre outros) constituem as principais razões para a procura pelo aborto após a 20ª semana de gravidez”, explica o parecer.

O parecer afirma que o Direito Penal deve ser usado como último recurso, já que ele é regido pelo princípio da intervenção mínima e da reserva legal. “O Direito penal torna-se ilegítimo quando a serviço do clamor social, pois sua utilização deve ser como ultima ratio, e não como primeira e única opção”, diz o documento.

Outro argumento utilizado é o de que o PL viola o princípio da humanidade das penas.

“A imposição de pena de homicídio às vítimas de estupro é capaz de ostentar características de penas cruéis e infamantes, o que seria um retrocesso e uma violação ao princípio da humanidade das penas”, argumentou.

Segundo a OAB, o PL também feriria o princípio do Estado Laico, que sustenta que convicções de determinada religião não podem ser impostas ao conjunto da sociedade. A OAB também chamou atenção para o fato de a urgência do projeto de lei ter sido aprovado sem discussão com a sociedade.

Defesa do PL
De autoria do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL/RJ), o texto conta com a assinatura de 32 parlamentares. Ao justificar o projeto, o deputado Sóstenes sustentou que “como o Código Penal não estabelece limites máximos de idade gestacional para a realização da interrupção da gestação, o aborto poderia ser praticado em qualquer idade gestacional, mesmo quando o nascituro já seja viável”.