Em uma nova derrota do governo, o Senado aprovou ontem a Medida Provisória do “Voo Simples” reafirmando a volta do despacho grátis de bagagem de até 23 quilos em voos nacionais e até 30 quilos em voos internacionais. Com alterações, a MP volta à Câmara dos Deputados e precisa ser votada até 1º de junho, ou perderá os efeitos. As informações são do Valor Econômico.
O relator, senador Carlos Viana (PL-MG), que chegou a dar entrevistas defendendo a bagagem grátis, cedeu à pressão das empresas do setor aéreo e do governo e suprimiu o trecho, mantendo a cobrança existente. “Não devemos nos juntar a Venezuela e Coreia do Norte. Nenhum país onde a economia é aberta tem gratuidade de bagagem. Não há gratuidade, vai aumentar o preço da passagem”, argumentou.
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Contudo, uma emenda apresentada pelo líder do PSD, Nelsinho Trad (MS), teve amplo apoio, de 53 senadores a 16, e trouxe de volta ao texto a previsão de bagagem gratuita, tal como havia sido aprovado pela Câmara - onde o governo também foi contra e igualmente perdeu.
“A cobrança pelo despacho teve início 2017 e de lá para cá o preço médio da tarifa doméstica praticado no Brasil só aumentou. Em 2018, o valor aumentou 0,8% e, em 2019, a alta registrada foi de 8%. Já em 2020, por conta do impacto da pandemia que derrubou as viagens aéreas, a tarifa teve uma queda de 14,5%”, apontou Trad. “No ano passado, os preços voltaram a subir, com alta de 19,3%. Agora, segundo dados do IBGE, a alta nas passagens aéreas é de 9,48%, enquanto o IPCA, principal índice de inflação, acumula alta em 2022 de 4,29%”.
Viana justificou que a volta da bagagem grátis “pode ter impacto significativo para o setor de transporte aéreo, dificultando a entrada de empresas aéreas concorrentes”, mas não teve sucesso em convencer os pares.
No início do mês, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse ao Valor que o presidente Jair Bolsonaro vai vetar a volta da bagagem grátis. Interlocutores governistas avisaram os senadores que a equipe econômica vai pedir o veto, o que teria motivado Viana na mudança de posição, de favorável para contrário à gratuidade. Além disso, o senador, vice-líder do governo, é pré-candidato ao governo de Minas Gerais com apoio de Bolsonaro e precisa manter o vínculo por questões eleitorais.
Para além da questão das bagagens, a MP do Voo Simples visa desburocratizar regras do setor aéreo, simplificando e atualizando processos e procedimentos relativos ao setor aéreo e à atuação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Entre as mudanças, as atividades relacionadas à prestação dos serviços aéreos ficam caracterizadas como atividades econômicas reguladas. A prestação dos serviços aéreos pelo agente privado poderá, portanto, ser objeto de concessão, permissão ou autorização solicitada diretamente e sujeita à avaliação dos requisitos técnicos pela Anac, sendo permitida a operação na medida em que permaneçam atendidas as exigências técnicas dos regulamentos da autoridade de aviação civil.
A MP revoga ainda a exigência de autorização prévia para a construção de aeródromos e também a autorização prévia para o funcionamento de aeroclubes, escolas ou cursos de aviação. Também são reduzidas exigências na regulação sobre aeronaves, bem como limitações ao uso simultâneo de aeronaves para atividades diferentes.
Confirmando uma importante mudança feita pela Câmara, a MP traz dispositivo para diminuir a burocracia e custos enfrentados pela Embraer para se beneficiar de um incentivo fiscal para exportação de aeronaves. A legislação permite uma redução de tributos quando a aeronave for exportada, mas não prevê o mesmo benefício se a venda ocorrer no território nacional. Por isso, a Embraer enviava a aeronave para suas subsidiárias fora do país e depois “reimportava”. Com a emenda, será autorizada a exportação de aeronaves sem que saiam do território brasileiro, desde que o comprador seja empresa sediada no exterior e o veículo seja entregue a prestador de serviços aéreos regulares no Brasil.