EXCLUSIVO
Minha equipe aprofundou as investigações em curso sobre os crimes cometidos pelo bilionário empresário Janguiê Diniz contra a Mata Atlântica, desde o percurso inicial até chegar ao flagrante delito no final da tarde do dia 21 de março.
Assim que se tornou proprietário da área de Mata Atlântica, que tem mais de 4 milhões de metros quadrados, em 2018, José Janguiê Diniz procurou um velho amigo e especialista em temas ambientais: o ex-governador e ex-ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause.
Leia maisO bilionário paraibano, dono da Uninassau, queria contratar a empresa de consultoria de Krause para dar apoio técnico no desenvolvimento de um projeto imobiliário na área de Mata Atlântica na Guabiraba, no Recife. Pelo que apuramos, Krause disse enfaticamente que aquela área era protegida ambientalmente e não seria viável para projetos imobiliários.
Na verdade, foi Krause, como prefeito do Recife, governador de Pernambuco e ministro do Meio Ambiente, quem estruturou mecanismos legais para a proteção de mananciais e da Mata Atlântica. Ninguém tem mais autoridade e qualificação do que Krause sobre o tema. Até onde apuramos, Krause se negou a prestar essa consultoria por considerar inviável e contrário ao interesse público do ponto de vista legal e ambiental.
Constatamos no mercado imobiliário do Recife que José Janguiê então colocou pessoas qualificadas para vender sua propriedade de Mata Atlântica no Recife. Porém, passaram-se alguns anos e não encontrou comprador. Foi quando apareceram diversas pessoas dizendo que era viável sim e que Krause estava errado.
Todos sabem que Krause é um homem de bem, atuando sempre na linha da dignidade pessoal e profissional. Além de ter sincera preocupação e responsabilidade com a questão do meio ambiente. O que é uma raridade nesse mundo cão da política e das consultorias. Por isso, não aceitou o pedido de contratação feito pelo bilionário paraibano.
Pelo que conseguimos colher de informação, apareceram diversos aventureiros garantindo a José Janguiê que com certeza poderia fazer um condomínio na área ao lado da pista na Estrada da Mumbeca. Inclusive mostraram vários pequenos trechos que existiam nas proximidades. Daí que surgiu o chamado Crime do Pau-Brasil.
Existem diversos nomes envolvidos, inclusive de pessoas públicas e outras nem tanto, mas não conseguimos saber com exatidão o papel de cada um para influenciar o bilionário paraibano sobre essa fase de delinquência ambiental. Aí aparece uma pessoa chamada de Salo Bortman (na foto abaixo), próximo a José Janguiê, dizendo que consegue sim as autorizações para construir um condomínio de altíssimo luxo com 500 super mansões.
A ideia vendida a José Janguiê foi de fazer ali um novo bairro do Recife, exclusivo para pessoas ricas, similar ao que a Odebrecht tentou fazer numa área vizinha que havia pertencido ao Banco Econômico, mas que depois de 6 anos não conseguiu as autorizações, porque Eduardo Campos desapropriou a área em 2013 para ser a ampliação da Floresta de Dois Irmãos.
Salo Bortman se gaba por cultivar conexões políticas poderosas. Por exemplo, ostenta ter trabalhado todo o segundo mandato de Eduardo Campos como representante do governo estadual junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), assim atuando como secretário executivo do Prodetur em Pernambuco. Dessa forma, Salo conseguiu entrar como o principal lobista do novo bairro dos super ricos, de propriedade do bilionário Janguiê.
E é a partir daí que começam essas novas sequências de crimes ambientais. Também é nesse momento que o grupo de José Janguiê monta o cerco junto ao prefeito João Campos. Uma das coisas que propuseram foi que destinar a área das nascentes e da floresta em zonas acidentadas, onde não é possível se construir, para se ter um grande parque aberto ao público e em troca o prefeito daria autorização para o novo bairro inicialmente com 500 mega mansões.
O grupo Janguiê alega que obteve total apoio de João Campos, o que não é verdade, segundo um interlocutor do gestor. Mas o fato é que depois foram feitas novas tentativas de comprar áreas vizinhas, inclusive uma que dá acesso à BR 101, logo após o centro de treinamento do Náutico.
Janguiê teria certeza que com a suposta licença a ser dada por João Campos, essas áreas iriam ter uma valorização financeira astronômica.
É nesse contexto que aparece outra figura chave, trazida por Salo Bortman: Carlos de Oliveira Ribeiro Filho, mais conhecido como Carlos Ribeiro (na foto abaixo).
Ele foi apresentado ao grupo Janguiê como o garantidor das licenças ambientais, tanto da Prefeitura do Recife quanto do Governo de Pernambuco. Carlos Ribeiro apresenta o seu histórico de servidor de carreira da Secretaria de Meio Ambiente do Recife, concursado em 2008, tendo sido o Secretário Executivo de Licenciamento e Controle Ambiental da Prefeitura do Recife entre 2013 e 2020 na gestão de Geraldo Júlio. Trabalhou anteriormente como analista ambiental do Governo do Estado durante uma década.
Vale ressaltar que, em janeiro de 2021, Carlos Ribeiro foi nomeado secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade da administração João Campos, tendo ficado mais de dois anos nesta posição, como parte da equipe central do prefeito do Recife. Era, portanto, o responsável geral por toda área de meio ambiente, inclusive de autorizar as licenças ambientais para projetos imobiliários.
Ou seja, Carlos Ribeiro entrou como o chefe do time de lobistas para assegurar as licenças ambientais na Prefeitura do Recife, onde trabalhou durante 15 anos, dos quais seis como chefe de licenciamento. Mas também garantir as autorizações do Governo do Estado, onde atuou durante 10 anos na área de análise ambiental. Além de fazer alianças para obter as licenças federais, supostamente tendo especial apoio político do prefeito João Campos.
Pelo que nossa equipe constatou, Carlos Ribeiro está trabalhando intensamente para o grupo Janguiê nesse megaprojeto imobiliário. Inclusive já colocou em campo especialistas para fazer os levantamentos e preparar os relatórios “técnicos” para a Prefeitura e o Governo do Estado. É a maneira que ele assegura que vai conseguir todas as autorizações para supressão da Mata Atlântica. E a jogada é exatamente destinar áreas para preservação e outros truques legais com os quais Carlos Ribeiro já tem 25 anos de experiência.
Só que José Janguiê não imaginava estar sob investigação, inclusive policial, e agora vai estar sob a lupa não só da polícia, mas também da sociedade e da imprensa. No caso de Carlos Ribeiro conseguir as autorizações municipais e até mesmo estaduais, dificilmente vai obter do Governo Federal, mesmo se contar com toda a força política federal de João Campos, como eles alegam ter. Trata-se de um jogo mega pesado que José Janguiê está fazendo e ele acha que consegue tudo com dinheiro.
O interlocutor de João Campos disse que ele jamais iria deixar sujar seu nome nessa lama de crimes ambientais. “Não pode permitir ser citado como o principal protetor de predadores da Mata Atlântica. Isso mancharia demais sua imagem política tanto no presente e sobretudo no futuro, considerando seus legítimos planos nacionais”, afirmou, pedindo reservas.
A verdade é que tudo está nas mãos do prefeito João Campos, porque ele não pode deixar Carlos Ribeiro entregar o que contratou com o bilionário paraibano José Janguiê. Seu ex-secretário de Meio Ambiente, que foi responsável direto por todo o licenciamento ambiental na Prefeitura durante 6 anos, não pode ser permitido a levar João Campos a ser vítima dessa cilada criminosa.
Agora Pernambuco inteiro e também o Brasil, especialmente os órgãos de proteção do meio ambiente, mas também a sociedade como um todo, vão acompanhar cada passo desses crimes cometidos pela ganância descontrolada do bilionário paraibano José Janguiê. O Recife já é uma das cidades com menor cobertura de Mata Atlântica em todo o Brasil e não poderá ser João Campos, a maior promessa de liderança de Pernambuco, quem vai deixar esses crimes ambientais prosperarem e ficarem impunes.
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