Por Ricardo Andrade*
O Clube Militar realizará, neste domingo (31), um almoço de comemoração aos 60 anos do golpe de Estado, que depôs o então presidente João Goulart e instaurou um regime militar de 21 anos no país. A confraternização ocorrerá na sede da associação, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, o general Maynard Marques de Santa Rosa fará um discurso em alusão ao ato, classificado no convite para o evento como “Movimento Democrático”. O Clube Militar é uma associação de caráter representativo, fundado em 1887, que abriga integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Leia maisA orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é para que não haja, por parte do governo, manifestações ou eventos oficiais relacionados ao aniversário do golpe. Lula afirmou que “não quer remoer o passado”. Seria uma forma de ajudar no distensionamento das relações com Exército, Marinha e Aeronáutica.
Em contrapartida, o Planalto também espera o silêncio das Forças Armadas em relação à data – sem leitura da ordem do dia com referências ao dia 31 de março de 1964.
A atitude do governo foi questionada pelo Pacto pela Democracia – coalizão que reúne mais de 200 organizações da sociedade civil -, que cobrou a organização de atividades para relembrar o rompimento da democracia. Na verdade, como historiador e cidadão brasileiro, considero vergonhoso e profundamente lamentável a posição do Presidente Lula, que na prática, segue apostando na bipolaridade dos extremos (Lulismo x Bolsonarismo) enquanto continua pagando publicidade governamental, falando em União.
Suas afirmações acerca da política e relações internacionais tem sido um verdadeiro fiasco, onde, finalmente, acertou numa, se reportando agora ao problemático caso das eleições venezuelanas, onde o ditador Maduro tentará mais uma reeleição. Mas como pode agora querer calar a voz daqueles que foram direta ou indiretamente vítimas do regime de exceção, da tortura, da Ditadura de 1964?
Por acaso Lula pedirá também que se reescrevam os livros de História? Reabilitando os torturadores, os militares de alta patente, atores e coadjuvantes, cúmplices do regime de terror, do período mais sombrio de nosso século XX? Ou esquecerá que ele mesmo foi preso pelo regime, no período das greves do ABC Paulista?
Fruto do próprio processo de redemocratização, Lula poderia até ficar calado, mas nunca proibir que algo tão marcante em nossa contemporaneidade fosse rememorado para que as antigas, sobretudo as novas gerações aprendam o valor da Democracia, que é universal e não relativa, como ele afirmou meses atrás.
Uma vez golpista, sempre golpista. Parte dos militares e, sobretudo, os seus clubes não irão voltar atrás de suas convicções por essa atitude de Lula, José Múcio e cia. Pelo visto, Lula deve ter faltado a algumas aulas de História e, para ele, eu remeto uma pergunta: “o que é isso, companheiro?”
*Historiador, cientista político e presidente do Instituto Histórico, Geográfico, Arqueológico, Antropológico do Paulista (IHGAAP)
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